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Empregos Fantasmas dominam o mercado e preocupam especialistas

Vagas sempre ativas e que nunca são preenchidas já são notadas por postulantes a  postos de trabalho, por colaboradores de empresas que as postam e para o mercado em geral

Por Leon Santos

Uma denúncia do site BBC internacional levantou uma questão até então desconhecida para quem busca emprego e para o público em geral. São os empregos fantasmas — vagas que são anunciadas em sites como Indeed e LinkedIn, mas que nunca são preenchidas e, pior que isso, que não foram criadas para serem ocupadas.

As evidências vêm de estudos como o da consultoria Revelio Labs, que revelou que mais de 50% das vagas anunciadas em 2023 não foram convertidas em contratação. Outra organização que percebeu realidade parecida foi a empresa Clarify Capital — do ramo de empréstimos comerciais —, cuja pesquisa revelou que 70% das vagas que permanecem abertas por mais de 30 dias, e outras 10% abertas por mais de seis meses, não são preenchidas.

Após entrevistar mais de mil recrutadores, a Clarify ouviu como resposta para justificar o fenômeno, o fato de as empresas estarem sempre abertas para novos colaboradores, o que sugere a não existência da vaga. Além disso, um terço dos entrevistados disse que manteve as vagas ativas para formar um grupo de candidatos para eventuais rotatividades — não porque uma vaga precisasse ser preenchida em tempo hábil.

No mesmo levantamento, 40% dos gestores disseram que listam vagas ativamente para dar a impressão de que a empresa está crescendo. Outros 34% alegaram que as vagas são publicadas para tranquilizar funcionários sobrecarregados que esperam por ajuda adicional.

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Para a mestra em administração e professora do Ibmec-DF Caroline Cordova, quando começam a surgir opiniões e pressões acumuladas de candidatos sobre a veracidade dos processos seletivos, a repercussão tende a ser extremamente negativa. A consequência direta é o impacto prejudicial à imagem da empresa.

Caroline explica que uma vez com a reputação prejudicada, a empresa pode ser vista como desonesta e antiética, não só por candidatos, mas por seus stakeholders, como clientes, fornecedores e investidores. Os riscos consequentes da prática também envolveriam o desencantamento futuro de potenciais talentos, bem como de todo o ambiente comercial ao qual a empresa está exposta.

“O que esperar da cultura e da estratégia de uma empresa que já é desonesta no processo inicial de recrutamento de candidatos? Como ter confiança na integridade da empresa neste e em outros processos? A relação, por qualquer que seja, já se inicia disfuncional e em clima de desconfiança, ou seja, não há perspectiva de futuro sustentável nesses termos”, avalia Caroline.

Indícios e infrações

Segundo a professora dos cursos de pós-graduação em administração da FGV Karen Mascarenhas, identificar se a vaga é fantasma requer atenção aos detalhes. Se a vaga permanece aberta por um longo período sem qualquer movimentação no processo de seleção ou se a empresa continua postando a mesma vaga repetidamente, sem contratar ninguém, pode ser indício de que a vaga é falsa.

Karen ainda recomenda a quem busca emprego verificar a consistência das informações fornecidas pela empresa e observar se existe falta de detalhes sobre a posição ou se os requisitos são vagos e genéricos. Outra forma de checar a existência da vaga é contatar a área de recursos humanos da empresa solicitando informações sobre o andamento do processo.

De acordo com a professora, no contexto das políticas ESG (ambiental, social e de governança), a prática de divulgar vagas fantasmas pode ser vista como uma violação dos princípios de transparência e de responsabilidade social corporativa. Ela diz que empresas que se comprometem com políticas ESG buscam demonstrar um compromisso genuíno com o bem-estar dos funcionários e da comunidade, bem como com a transparência em suas práticas de recrutamento e seleção.

“As empresas que utilizam essa prática estão tentando criar uma falsa imagem de responsabilidade social e compromisso com o emprego, quando na realidade não estão oferecendo oportunidades reais. Isso poderia se encaixar na categoria de Greenwashing, classificada como ‘imagem falsa de responsabilidade social’ — quando uma empresa tenta projetar uma imagem de sustentabilidade e responsabilidade social que não corresponde às suas práticas reais”, revela.

LGPD

Ao postar vagas que não existem, e reterem dados dos candidatos, as empresas podem ser enquadradas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), segundo a administradora Caroline Cordova. Isso porque as empresas devem garantir que os dados sejam utilizados para o objetivo ao qual foram solicitados, além de serem obrigadas a dar ciência aos candidatos para que eles autorizem ou não o uso de seus dados para outros fins.

“Os candidatos precisam ser adequadamente informados sobre qual será o destino de seus dados pessoais e como será realizado o tratamento. Caso isso não ocorra, cabe a caracterização de uma violação da LGPD, levando a consequências negativas para a empresa”, diz Caroline.

Já segundo a professora Karen Mascarenhas, mesmo que os currículos não sejam utilizados para contratação, o simples ato de coletar os dados sem consentimento, adequação ou finalidade clara pode violar a legislação. Nesse caso a empresa estaria sujeita a sanções e penalidades previstas na LGPD, tais como advertências e multas de 2% do faturamento da empresa podendo chegar até ao valor de R$ 50 milhões.

“Postar vagas falsas podem causar problemas legais (com a LGPD), de credibilidade junto ao público externo e ainda gerar uma série de problemas internos como a deterioração do clima organizacional, desalinhamento de expectativas e cultura de desconfiança entre os colaboradores e a liderança. Definitivamente, isso vai contra as melhores práticas de ESG e não vale a pena”, sentencia.