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O protagonismo de Luíza

Considerada uma das 60 personalidades mais poderosas do país, a administradora Luíza Trajano deu uma aula de empreendedorismo e falou do valor das empresas familiares nos dias de hoje

Luiza Helena Trajano é presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e do Mulheres do Brasil, grupo com cerca de 20 mil mulheres que se uniram com um objetivo em comum: melhorar o país.

Terceiro nome brasileiro no World Retail Hall ofFame – lista das mais prestigiadas personalidades do varejo no mundo –, Luíza é formada em Administração e começou a trabalhar aos 12 anos de idade como vendedora, em um pequeno comércio da família em Franca, no interior de São Paulo. A loja se transformou num dos maiores grupos varejistas do país, que hoje é citado em rankings como a segunda melhor empresa para se trabalhar no Brasil.

 

RBA – Luíza, como foi transformar aquela pequena loja em Franca em tudo isso que o Magazine Luíza é hoje?

Luiza – Primeiro: a família precisa querer isso. E quando a família quer, ela aceita muita coisa, não perde o dinheiro da empresa, deixa investido no negócio. Segundo: ter uma equipe alinhada, propósito claro, não pensar só no dinheiro e querer que o empreendimento dure cem anos.

 

RBA – O que você considera que foi fundamental até aqui?

Luiza – Acho que tudo muda, menos os princípios de transparência e de honestidade. O Magazine Luiza, nesses 60 anos, nunca pagou um título atrasado e nunca pediu prorrogação, o que é muito normal no varejo. Em qualquer lugar que você for, vai ver que os nossos inegociáveis são princípios básicos muito fortes e que mantêm mesmo hoje, com 900 lojas, um faturamento imenso com crescimento muito grande. Agora, a gente muda muito de tecnologia.

 

RBA – Seus filhos dizem que você tem uma frase muito interessante: “Não sabe o que vai fazer? Faz Administração. Vai fazer Medicina? Faz Administração primeiro.” Você acha que a gestão e o profissionalismo são essenciais numa empresa?

Luiza – Eu adoro o curso de Administração porque ele dá uma base geral. Hoje, duas coisas vão fazer a diferença: conhecimento e fazer acontecer. Não adianta ter muito conhecimento e ficar fazendo planos, planejamento. Tem que ser igual às startups. Eu sou bem parecida. Tem uma ideia? Tem um conhecimento? Põe em prática rápido e vai redirecionando-a rápido também. Conhecimento e fazer acontecer são duas coisas que têm que andar juntas.

 

RBA – No ano passado, o faturamento do Magazine Luíza foi superior a R$ 14 bilhões. A senhora atribui esse resultado positivo ao ambiente familiar cultivado na empresa?

Luiza – Sim! Como viemos de família e conseguimos crescer e manter esse ambiente, nós temos uma regra de ouro muito simples: faça para o outro o que gostaria que fizesse a você. Assim, você já resolve 90% das suas relações.

 

RBA – Quais são os princípios da Administração que vocês mais utilizaram – e ainda utilizam – na história do Magazine Luiza?

Luiza – Planejamento estratégico e produtividade. O mais importante dos quesitos de Administração é que eles não podem ser amarrados, não podem ser regras básicas. Todo mundo tem que ajudar e participar. Eu costumo dizer que mexer com gente não é tão difícil como o pessoal fala, mas você tem que estar com eles [funcionários] na cabeça, no coração e no bolso.

Para estar na cabeça, você precisa empoderar as pessoas. Elas precisam sentir que também participam. Eu tinha umas perguntas muito boas: as três coisas que a empresa faz e não deveria fazer; as três que faz e deveria continuar fazendo; e as três que não faz e deveria fazer. Isso me ajudou muito, porque todo mundo participava.

Para estar no coração, é preciso ser fiel aos seus princípios, em vez de pregar uma coisa e não fazer. Quando falo do bolso, a empresa tem que dar muita participação. Não para as pessoas fazerem 100, mas para fazerem acima de 105. Elas também se sentem donas quando participam do resultado financeiro da empresa.

Os conceitos de Administração são conhecimentos muito válidos. Como colocá-los em prática para não engessar o negócio, é o que eu acho mais importante.  

 

RBA – Uma das suas características mais marcantes é o otimismo. Em algum momento você achou que não daria certo?

Luiza – Eu tenho uma cabeça de solução. Problema é só doença e tudo é uma oportunidade. A crise agora é uma oportunidade para comprar ou alugar pontos [comerciais], para os pequenos irem onde nunca poderiam. Dizem que o cérebro da gente tem dois lados: solução e problema. Tem gente que adora ter problema e, quando sai uma crise, fica desanimado, não consegue buscar solução.  Eu, não. Fui criada assim, pensando que tudo tem uma solução, a não ser uma doença.

 

RBA –Vocês têm o LuízaLabs – frente de inovação do Magazine – que alavancou a transformação da empresa. Como se deu essa migração para o mundo digital?

Luiza – Começou em 1991. A empresa criou uma loja eletrônica que já vendia por TV e vídeo, que era case em Harvard. Os nossos princípios não mudam, mas só duas coisas vão fazer a diferença em uma empresa: atendimento (e, por isso, as pessoas são importantes) e inovação (a gente nunca teve medo de inovar). Nós temos espírito de inovação.

 

RBA – Vocês têm os chamados “ritos de segunda-feira”. O que são? E por que os mantêm?

Luiza – Isso nasceu há mais de 20 anos, porque eu sou uma pessoa apaixonada pelo Brasil. Toda segunda-feira, em todos os nossos locais, fazemos um rito onde cantamos o Hino Nacional. Cantamos ainda o hino da empresa e uma porção de coisas, mas também mostramos os resultados, se [o negócio] está bem, se não está, as campanhas da semana. Acreditamos que comunicação é um processo diário de estar atento, alinhado. Todos ganham conforme o resultado, desde a faxineira até o presidente da empresa, não podemos ter medo de ser transparente.

 

RBA – Quem é Luiza Trajano e o que ela representa para o Magazine Luiza?

Luiza – É difícil de responder, né? Acho que é toda uma história, é toda uma institucionalização da marca. Mas a empresa funciona sem mim, isso que é importante.

 

RBA – O que é e por que você criou o Mulheres do Brasil?

Luiza – Eu amo o meu país. E aí, lógico, sempre estive atenta à política do Brasil. Também nunca me filiei a um partido, não sou partidarista. Não tenho raiva nem amores por direita ou esquerda. Tenho amor pelo Brasil.

Cinco anos atrás, eu estava em uma reunião em Brasília, com 40 executivas, e, antes de começar, todas estávamos pensando no Brasil. Então, resolvemos montar um grupo. Hoje, temos 20 mil mulheres e queremos ser o maior grupo político do país.

Acreditamos que, sem tirar essa forma de gestão que está aí, não vai mudar, nenhuma pessoa [político] vai mudar. Só a sociedade civil unida, com propostas muito sólidas, vai conseguir fazer essa mudança. O Mulheres do Brasil é um grupo muito forte. A gente recebeu, na semana passada [no dia 16 de agosto], todos os presidenciáveis para um debate. Queremos ajudar a gestão pública, montar e aprovar propostas, colaborar com o Brasil.

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