A Revista Brasileira de Administração (RBA) edição 143 está no ar e traz como destaque a entrevista especial com a administradora Elaine Silva. Funcionária da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mestra em Saúde Pública e doutoranda em Ciência da Informação.
Você trabalha em uma instituição de pesquisa conhecida, sobretudo, por trabalhar com foco na Saúde. Como é trabalhar na Fiocruz?
A Fundação Oswaldo Cruz é uma instituição ímpar, pois apesar do conceito da organização estar pautado na promoção da saúde e no desenvolvimento social, uma das missões da Fundação é gerar e difundir conhecimento científico e tecnológico para a sociedade, em especial, a brasileira. Para dar conta de atender às demandas complexas do setor de saúde, a instituição abrange outras áreas como ensino, inovação, produção, comunicação e informação.
Essa diversidade dá oportunidade ao profissional da gestão de percorrer por várias temáticas e se aprofundar no tema saúde. Sendo a Fiocruz uma instituição de pesquisa, também desperta nos profissionais de gestão essa vontade de contribuir cientificamente.
Atualmente, o recorte da pesquisa que coordeno é identificar e mapear os grupos colaborativos de pesquisa da Instituição. Também procuramos analisar as competências e perfis dos colaboradores, além de mapear as competências das redes.
Fazemos, ainda, um levantamento das práticas e iniciativas de ‘Gestão do Conhecimento’ utilizadas nas redes. Identificamos as principais estratégias que os grupos de pesquisa usam para compartilhar e reter conhecimentos, informações e dados.
Como você avalia a educação, em geral, no Brasil de hoje? O que é preciso melhorar para termos mais inovação e mais profissionais de ponta?
Opinar sobre educação no Brasil, e no contexto pandêmico, é extremamente desafiador e complexo. Primeiro, por que as desigualdades sociais se expandem nesse cenário de educação.
Enquanto uma família tem toda estrutura para manter o ensino a distância a um aluno, outra não consegue nem acesso à internet. Então fica realmente difícil falar de educação, nesse contexto, e ter uma prospecção positiva em relação ao tema.
Sob o meu ponto de vista, torna-se urgente a necessidade de uma revisão e adequação do modelo atual de educação, de forma que garanta a aprendizagem. Porém, para aqueles que possuem acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, ampliou-se as possibilidades do autodesenvolvimento.
Isso permite que os profissionais possam se capacitar continuamente, desenvolvendo o “Lifelong learning”, que significa adotar a aprendizagem contínua. Para que as empresas estimulem a inovação é necessário que haja uma mudança na formação dos profissionais, tornando-os mais críticos e ativos no processo.
Os profissionais da Saúde foram muito cobrados durante a pandemia pela falta de desenvolvimento de uma vacina nacional, mas o investimento em ciência é pouco no Brasil. Como e quanto deveríamos investir, a mais, para ter uma ciência de ponta?
A pandemia do coronavírus provocou uma tensão nos sistemas de saúde e principalmente uma disputa acirrada entre países, tanto por insumos quanto para sair na frente no desenvolvimento de vacinas. Essa crise sanitária escancarou um problema estrutural da dependência tecnológica e produtiva da área de saúde e a fragilidade do país de ter que importar mais de 80% dos fármacos.
A Fiocruz se mostrou extremamente eficiente para responder com agilidade. Porém, se tivéssemos uma capacidade produtiva industrial e tecnológica — estruturada e sólida—, com fortalecimento de um complexo econômico-industrial da Saúde, no país, a resposta seria ainda melhor.
Precisamos investir em inovação, no desenvolvimento de novas tecnologias e no fortalecimento da capacidade de produção tecnológica local. Enquanto o Sistema priorizar a aplicação financeira, continuaremos reféns da importação de produtos industriais e do enfraquecimento do Sistema Único de Saúde, o nosso SUS.
Confira a outra parte da entrevista. Clique aqui.
Leon Santos
Assessoria de Comunicação CFA