O que ainda pode ser feito na administração?
Atual presidente do CFA, o administrador e pesquisador Mauro Kreuz foi o entrevistado especial da RBA 138. Durante o diálogo, ele analisou temas de interesse dos profissionais da administração e falou sobre novas tecnologias, mercado de trabalho e assuntos de interesse da sociedade brasileira.
Kreuz possui experiência nos segmentos de finanças, como consultor da empresa Thalenthus, e educação (professor universitário, pesquisador e diretor administrativo em instituições educacionais).
Nas linhas a seguir, ele faz um balanço sobre a trajetória da profissão no Brasil, avalia o mercado de trabalho e fala sobre crise econômica e pandemia. Ele descreve as ações do CFA nos últimos anos, analisa o mercado de trabalho e os rumos do país — além de chamar atenção ao Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 108, em tramitação no Congresso Nacional, que pode inviabilizar a fiscalização das profissões no Brasil.
Segunda parte da Entrevista
A conjuntura de endividamento das famílias mostrou que o brasileiro médio possui dificuldades de administrar suas finanças. Qual contribuição a Administração poderia fazer para ajudar essas pessoas?
As quatro funções administrativas são planejar, organizar, dirigir e controlar. Esse conjunto envolve um universo de ações que o gestor deve adotar para manter a empresa no caminho certo.
Creio que o endividamento das famílias tenha a ver, sobretudo, por uma questão cultural. As pessoas não têm o hábito de poupar, não fazem reserva financeira e não se planejam.
Essa educação financeira deve acontecer desde a mais tenra idade e, aos poucos, percebemos que essa é uma disciplina que as escolas estão adotando justamente para mudar esse cenário. Que as crianças de hoje tornem-se adultos mais estáveis do ponto de vista financeiro.
Uma das áreas da Administração que ajuda nessa formação é a de Finanças. Administração Financeira trata da gestão das finanças de empresas e organizações e, querendo ou não, as famílias são “pequenas empresas”, por isso se não houver uma boa gestão, um bom planejamento, elas também sofrerão.
O cenário socioeconômico global mostra que a realidade está cada vez mais complexa e que o Brasil ficou para trás em diversos setores. Falta um projeto estratégico de nação para o Brasil? O que poderia ser feito atualmente, com vistas a obter êxito em 20 ou 50 anos?
Sim, falta ao Brasil um projeto estratégico de nação. O chefe do Executivo precisa se cercar de equipe técnica e capacitada para elaborar planos a longo prazo, que tenha como meta o país que queremos para daqui a 50 anos, por exemplo.
Há, contudo, uma polaridade política acentuada no Brasil que enfraquece o combate ao novo coronavírus. O diversionismo não diminuiu entre os poderes e os políticos.
A gestão fiscal no país está, enquanto isso, cada vez mais precarizada, e o governo continuará frágil e refém do sistema financeiro. No Brasil, cerca de 54% do orçamento fiscal é para pagamento de juros e dívidas.
Esse descontrole será ainda maior. Além disso, com o acirramento das desigualdades, a previsão é de que 50 milhões de brasileiros terão que viver com R$15 a R$ 20 reais por dia.
A nossa economia está financeirizada e não está mais na indústria — setor que contrata muito e desenvolve as potencialidades econômicas. Precisamos rever isso, pois temos vantagens competitivas com a retomada da industrialização nacional. Caso contrário, logo mais, metade da população estará na absoluta pobreza.
Existem algumas profissões, no Brasil, que foram desregulamentadas. Com isso, para atuar em algumas delas não é mais necessário ter curso superior em sua área do conhecimento. O que o senhor diria aos profissionais de Administração que desconhecem a importância de articulação política de defesa das profissões?
Em primeiro lugar, eu perguntaria a este profissional se ele já tem registro. Não dá para defender um profissional que ainda não está legalmente registrado junto aos CRAs. O Sistema CFA/CRAs realiza um trabalho incansável de articulação para promover os profissionais da Administração, seja por meio de parcerias ou convênios, seja por meio articulação política no poder Legislativo, Executivo e Judiciário.
O Sistema CFA/CRAs não é balcão de emprego, mas trabalha para proteger a sociedade dos maus profissionais e garantir a sustentabilidade das organizações. A nossa fiscalização é atuante, basta ver as vitórias que alcançamos no judiciário.
Podem ficar tranquilos, que a Administração não será desregulamentada. O seu diploma ainda será válido no mercado, mas a sua vida profissional depende de seu registro no CRA.
A conquista do diploma não é o fim, mas o começo. Por isso, ressalto mais uma vez: não fiquem parados, aproveitem as oportunidades que a crise oferece, e criem. Sejam os protagonistas de suas carreiras, tornem-se imprescindíveis para o mercado e façam a diferença.
Leia, aqui, a primeira parte da entrevista.
Por Leon Santos – Assessoria de Comunicação CFA