No Dia Mundial da Água, CFA-Gesae mostra que o país perde 339 litros de água tratada por dia. Além disso, o acesso a saneamento básico é precário. A falta de políticas públicas para o setor traz sérios problemas de saúde pública para os brasileiros, principalmente em tempo de coronavírus
No próximo domingo, 22, é o Dia Mundial da Água. A data, criada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, é usada para conscientizar e sensibilizar a população sobre o uso racional deste recurso natural. No Brasil, 35 milhões de pessoas ainda não têm acesso ao abastecimento de água. De acordo com o Sistema CFA de Governança, Planejamento e Gestão Estratégica de Serviços Municipais de Água e Esgotos, o CFA-Gesae, o consumo médio per capita de água, no país, é de 154 litros por dia.
O Rio de Janeiro é campeão quando o assunto é uso da água: no estado, o consumo, por habitante, é de 254 litros por dia. Na capital fluminense, essa utilização per capita diário é bem maior: 328 litros. O estudo, feito pelo Conselho Federal de Administração (CFA), oferece aos municípios um sistema de governança e planejamento estratégico de serviços públicos de água e esgoto.
Apesar de o consumo ser maior que a média brasileira, recentemente o estado sofreu uma crise hídrica. A água que chegou às casas fluminenses no início deste ano apresentava gosto de terra, forte cheiro e com turbidez. Segundo a diretora de Estudos e Projetos Estratégicos do CFA, Gracita Barbosa, é possível que o problema esteja no esgoto. “O ‘Índice de Tratamento dos Esgotos Gerados’ no estado é de 40%. Ou seja, a maior parte ainda não é tratada”, explica a administradora citando dados do CFA-Gesae.
Questão de saúde pública
A falta de água tratada é, ainda, um grande desafio para estados e municípios. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), para cada dólar investido em água e saneamento, são economizados 4,3 dólares em custos de saúde no mundo. Em meio a pandemia mundial do novo coronavírus, quem sofre com a escassez de água ou a falta de saneamento tem dificuldade para prevenir a doença.
Para se ter ideia, no Brasil, 53,15% da população tem acesso a rede tratada de esgoto. Os outros quase cem milhões de pessoas, principalmente das regiões Norte e Nordeste do país, ainda convivem com dejetos a céu aberto. O estado com a pior cobertura é Rondônia: apenas 4,88% tem acesso a esgoto tratado.
Sem tratamento, esses resíduos são lançados no mar, córregos e rios, o que compromete, ainda mais, a qualidade da água. No Rio de Janeiro, onde quase metade da população não tem tratamento de esgoto, o índice de “Incidência das Análises de Coliformes Totais fora do padrão” apresentou percentual de 7,95%, um pouco acima da média nacional que é de 2,14%. Quanto à “Incidência das análises de turbidez fora do padrão”, o percentual foi de 10,92%, ficando abaixo da média Brasil de 11,06%.
Para Gracita, a ausência de saneamento básico está ligada à proliferação de dengue, zika e chikungunya. Além disso, ela explica que fica complicado as pessoas seguirem as orientações de higiene para conter a transmissão do coronavírus. “Falta gestão para resolver esse problema brasileiro. O país estagnou nessa área e, enquanto não criar políticas públicas sérias para resolver essa questão, o Brasil não alcançará as metas previstas no Plano Nacional de Saneamento Básico”, alerta a diretora do CFA.
Desperdício continua alto
A água ainda não chega a todos os lares brasileiros por causa do desperdício. De acordo com o CFA-Gesae, o Brasil perde diariamente 339 litros. As perdas são geradas por causa de ligações clandestinas, vazamentos, falhas de leitura de hidrômetro e desvios irregularidades. Em Boa Vista-RR, município que lidera o ranking do desperdício, escorrem pelos ralos mais de 1380 litros de água tratada por dia.
Por mês, a água “jogada fora” na capital de Roraima poderia resolver a falta de abastecimento em boa parte da região Norte. Ainda segundo o CFA-Gesae, por dia, o consumo per capita no estado é de 132,09 litros.
Ferramenta à disposição dos gestores
O CFA-Gesae auxilia na avaliação da gestão do saneamento municipal sob diversos aspectos. Ele possui dez áreas-chave e setenta indicadores. Por meio desses indicadores, é possível avaliar a gestão de forma detalhada. Entre os indicadores do Sistema estão: Tarifa média praticada, Despesa de Exploração por m³ Faturado, Despesa de Pessoal por m³, Despesa de Serviços de terceiros por m³, Índice de Coleta de Esgoto, Índice de Tratamento de Esgoto e Índice de Perdas por Ligação.
A ferramenta traz dados dos mais de 5 mil municípios e dos estados brasileiros. Com os índices fornecidos pelo CFA-Gesae, os gestores podem repensar suas políticas públicas na área de água e saneamento. “Ele oferece aos municípios um sistema de governança e planejamento estratégico de serviços públicos de água e esgoto”, explica Gracita.
O CFA-Gesae possui dez áreas-chave e setenta indicadores. Cada área-chave possui sete indicadores. Por meio deles, é possível fazer vários cruzamentos e avaliar a gestão de forma detalhada. “O CFA-Gesae é de fácil uso e foi pensada para oportunizar áreas de trabalho para os profissionais de administração”, finaliza a diretora do CFA, adiantando que, para o futuro, a ideia é ampliar o Gesae para as bacias hidrográficas.
Para saber mais acesse: www.gesae.org.br. Para consultar os gráficos, utilize “login: publico” e “senha: publico”.
Ana Graciele Gonçalves
Assessoria de Comunicação CFA