O Conselho Federal de Administração vai apresentar quatro artigos no XXI Encontro Latinoamericano de Administração – Organização Latino Americana de Administração (OLA) – e você pode conferir todos, na íntegra, aqui no site. Cada dia um assunto diferente e o primeiro a ser publicado é sobre a administração do futuro.
A administração do futuro
É certo que a Administração do amanhã deverá ser muito diferente daquilo que temos hoje, não só pelos avanços tecnológicos que crescem exponencialmente a cada momento, trazendo consequências disruptivas, como também pelo incrível desenvolvimento das organizações como “comunidades humanas complexas” e pelas mudanças sociais e culturais que nelas ocorrem.
Tudo isso junto traz profundas mudanças na forma e conteúdo da moderna Administração. Traz-nos um imperativo e um desafio simultaneamente: temos que nos preparar adequadamente para enfrentar esse futuro que está chegando cada vez mais depressa e de maneira mais rápida e mais mutável, mais complexo e mais desafiador.
Na verdade, a Administração se envolve com uma incrível multiplicidade de fatores internos e externos às organizações, realidades, tendências, paradigmas, fenômenos, muitos dos quais estão além de nossa alçada e controle; ou mesmo de nosso imaginário e compreensão.
E mais, ela se envolve com um mundo globalizado dos negócios e de mercados onde proliferam fatores tecnológicos, econômicos, sociais, ecológicos e demográficos que se juntam ou se dispersam, interpenetram ou colidem, sintonizam ou antagonizam produzindo momentos de forças que conduzem a situações dinâmicas altamente complexas, inesperadas, ambíguas, imprecisas, rápidas, momentâneas e passageiras.
É preciso, pois, preparar adequadamente as nossas organizações para o que virá no futuro, bem como preparar as novas gerações de Administradores em nossas universidades, de modo a evitar que sejam preparados para o passado, considerando que quando se formarem o mundo dos negócios já terá mudado e os desafios e exigências que encontrarão serão completamente diferentes daquilo que existe hoje.
Some-se, a isso, que tal preparação está impondo uma contínua monitoração e diagnóstico ambiental para a adoção de decisões e ações estratégicas, táticas e operacionais, além de um intenso foco nas tendências, a fim de preparar as nossas organizações para os novos paradigmas e realidades que virão. É que as mudanças chegam logo, são rápidas, impetuosas e desafiadoras.
É essa análise constante e permanente que deve fazer parte e da estratégia de sustentabilidade e competitividade de cada organização.
Preparar, por essa via, a organização do futuro para produzir alta qualidade de produtos competitivos para satisfazer consumidores sem destruir o planeta ou degradar a vida humana. Isso exigirá um radical conjunto de iniciativas de desenvolvimento organizacional capazes de combater as formas destrutivas do autoritarismo e da gestão paternalista e mover a organização para uma nova
“democracia organizacional”.
De outra parte, não é apenas a excelência operacional, os avanços da tecnologia ou os modelos de negócios, mas a inovação na Administração – os novos meios de mobilizar talentos, alencar recursos e formular estratégias para alcançar objetivos. Através da história, a inovação na Administração habilitou as empresas a introduzir novos desempenhos e construir vantagens competitivas duradouras.
Agora, mais do que nunca, as organizações necessitam de inovações na Administração. Buscar algo que altere substancialmente a maneira como o trabalho da Administração é feito, ou o que modifica significativamente as formas organizacionais.
Atrás vem a inovação estratégica, a inovação nos produtos/serviços e, na base do negócio, a inovação operacional. Por que? O paradigma da Administração no século passado – centrado no controle e na eficiência – decaiu em um novo mundo onde a adaptabilidade e a criatividade impulsionam o sucesso dos negócios.
Para enfrentar o futuro, as organizações precisam reinventar a Administração.
Pensar sobre como reinventar a Administração da forma como a conhecemos hoje é repensar os temas fundamentais que acercam como o capitalismo, a vida organizacional e o significado do trabalho.
E quais são, afinal, as novas ondas de mudanças que sobrevirão sobre a Administração? Ela precisa de muito fôlego e talento para sair-se bem no enorme desafio que o futuro lhe apresentará a cada dia que passa. Provavelmente, será necessária uma e diferente configuração dotada de aspectos intangíveis, como novas habilidades e competências para lidar com modelos e sistemas mergulhados em incríveis mudanças e transformações.
Basta ver algumas ondas de mudança para se ter uma pequena ideia de imensidão de mudanças e transformações que estão por vir nas organizações; e também na Administração como um fenômeno essencialmente organizacional.
1. Mudanças no mundo do trabalho
Estudos mostram que cerca de 50% dos empregos que existem hoje estão sujeitos a diferentes estágios de automação ou robotização. A TI está transformando celeremente o mundo do trabalho e o chão das fábricas e escritórios. Automação e robotização de um lado e trabalho móvel em qualquer tempo e lugar. Muitos dos empregos de hoje desaparecerão e outros se tornarão completamente diferentes, além de uma incrível variedade de tarefas executadas nas organizações.
2. Transformação digital
A revolução digital está chegando às nossas organizações. Não há como fugir dela. É preciso entender profundamente o que os dados dizem e transformar os insights que eles produzem em oportunidades e estratégias. Para tanto precisamos de TI e de explorar melhor o big data. Essa oportunidade ocorre devido à explosão dos dados digitais e o surgimento de ferramentas de análise e computação na nuvem. A expansão da digitalização permite que quantidade massiva de dados de fornecedores, parceiros, clientes e colaboradores sejam rapidamente disponíveis em tempo real enquanto todos eles estejam compartilhando informações a todo momento.
As estratégias digitais eficazes priorizam um punhado de intervenções nas quais o negócio pode explorar oportunidades significativas e reduzir sua exposição em mercados aonde o valor está em declínio, criando um modelo de negócio digitalmente habilitado.
3. Cultura de inovação
Por que a inovação é tão necessária? Porque com tantas mudanças e transformações ao nosso redor, tudo o que fazemos hoje pode se tornar rapidamente obsoleto no amanhã. Ao invés de termos ações reativas e atrasadas precisamos de ações proativas e antecipatórias pela frente. Esse é o papel da inovação.
Nessa conformidade, a Administração deve levar adiante uma cultura de inovação através de desafios aos colaboradores, incentivando a imaginação, curiosidade, criatividade, assunção de riscos, mudança de atitudes e comportamentos, pensar diferente, buscar soluções, desenvolver projetos pessoais, oferecer sugestões, participar ativamente com ideias e conteúdos.
Mutatis mutandis, inspirar e desenvolver os construtores do amanhã através de seus produtos, e os seus valores básicos estando nessa sintonia: criatividade, divertimento, imaginação, aprendizagem, qualidade, preleção.
Essa cultura provoca inspiração e ativa uma participação ativa e criativa de todos na empresa.
Posto isso, o CFA, em linha com os propósitos mencionados, vale-se de eventos permanentes como Fórum Internacional de Administração (FIA) e o Encontro Brasileiro de Administração (ENBRA), e mais as Comissões Especiais associadas ao tema, distribuídas nos Conselhos Regionais de Administração, para manter vivo o debate e a construção de soluções que permitam antecipar providências, de modo a preparar o
Sistema CFA/CRAs e as organizações relacionadas ao seu ambiente operacional e outras de interesse afim para a auto-atualização contínua e adaptação dinâmica à velocidade das mudanças induzidas, internas e externamente.
Fonte
* A Quarta Revolução Industrial. Klaus Schwab. 1ª Edição. Edioro. São Paulo.2018
* Para onde vai a Administração. Idalberto Chiavenato. CFA 2017
Wagner Siqueira – Presidente do CFA
Faça o download do arquivo aqui: Ato_0224228_A_ADMINISTRACAO_DO_FUTURO.