Você está visualizando atualmente Administradora luta por emancipação e inspira outras profissionais

Administradora luta por emancipação e inspira outras profissionais

Jocely Ferro saiu do campo para se tornar uma respeitada profissional de Recursos Humanos na capital alagoana. Conheça a história

Por Leon Santos

Administradora, com atuação na área de recursos humanos, Jocely Ferro é exemplo de brasileira que acreditou na educação e na carreira para driblar estereótipos da mulher do campo destinada a ser dona de casa para se tornar profissional de destaque. Alagoana, ela conta nas linhas a seguir um pouco de sua trajetória e traz lições de determinação e força.

Com pós-graduações em Recursos Humanos e em Coaching com ênfase em Mentoria voltada a Gestão de Pessoas, ela também é autora do livro “Cresça e Aconteça”. Entre as principais lições que traz, ela mostra que é preciso acreditar no próprio valor e potencial e empreender, em vez de esperar por um emprego. 

Jocely é consultora empresarial na área de RH e coordenadora da Comissão Especial ADM Mulher, do Conselho Regional de Administração do estado de Alagoas (CRA-AL).

 

CFA – Conte-nos um pouco de sua trajetória educacional e profissional?

Passei minha infância morando com meus pais na zona rural de Paulo Jacinto, uma pequena cidade do interior de Alagoas. Aos 14 anos, inquieta com a escassez da vida no sítio em que morava e vislumbrando um futuro próspero, decidi sair da casa dos meus pais e desbravar o mundo. Inicialmente, fui morar em Palmeira dos Índios, cidade do agreste alagoano, até concluir o ensino médio, onde conciliava os estudos com o trabalho.

Ao completar a maioridade fui morar na capital (Maceió) e continuei a conciliar o trabalho com os estudos, entendendo que a educação seria o melhor caminho para mudar o cenário da minha vida. Mais tarde, consegui uma bolsa para fazer graduação e escolhi o curso de Administração devido à amplitude e às possibilidades que o curso oferta.

Posteriormente, especializei-me em Recursos Humanos. Fiz formação em Professional e Self Coaching e em Análise Comportamental, o que agregou bastante à minha atuação no meio empresarial, com consultoria empresarial em Gestão e Recursos Humanos. 

A escassez e todos os nãos que atravessaram meu caminho serviram-me de estímulo para superar as dificuldades, buscar melhores condições de vida e de trabalho em qualquer cenário em que eu estivesse inserida. Foi isso que motivou minha transição de carreira, quando ainda trabalhava numa empresa privada, e a participar de um processo seletivo dentro da empresa para uma vaga de analista em recursos humanos — área em que eu havia acabado de me especializar.

Não fui aprovada, porque não tinha a experiência requerida, então decidi que estava na hora de abrir o meu próprio negócio, aplicando todos os meus conhecimentos adquiridos na academia e o aperfeiçoamento na prática diária, exercendo a profissão que tanto tenho orgulho e amor que é Administração. Durante esse período de transição do emprego formal para o empreender, fui convidada por uma editora para escrever um livro intitulado “Cresça e Aconteça”, onde discorro sobre o tema produtividade.

No lançamento, em Maceió, o vice-presidente do CRA-AL Dawison Calheiros prestigiou o evento e me convidou para visitar o conselho e a conhecer as ações que sua gestão tem realizado. Em seguida, fez outro convite, desta vez para coordenar a Comissão Especial ADM Mulher, em que aceitei a missão e venho me empenhando em realizar um trabalho em prol da valorização da profissão e em especial das mulheres administradoras e tecnólogas de Alagoas.

 

A senhora foi homenageada no Prêmio Selma Bandeira, em Alagoas. Conte-nos como foi essa escolha e em sua visão por que eles a homenagearam?

Selma Bandeira foi uma mulher cidadã, humanista, médica, mãe e visionária que lutou bravamente, ao enfrentar diversos percalços para promover mais dignidade à população alagoana. O prêmio está em sua 13ª edição e tem como objetivo reconhecer mulheres que desenvolvem trabalhos e destacam-se em sua área de atuação.

Acredito que as nossas histórias se conectam por conta da minha trajetória como mulher interiorana, que precisou quebrar velhos modelos que diziam que mulher humilde, e do interior, estaria fadada a ser gestora do lar e da família.

Assim como Selma Bandeira, eu não queria mudar apenas a minha realidade, mas também de outras pessoas: homens e mulheres, por meio de oportunidades no mercado de trabalho e com as ações da Comissão ADM Mulher.

 


Como a senhora vê o papel da mulher na administração hoje em dia? Falta espaço para as mulheres? Quais os principais entraves que a senhora vê nesse sentido?

Vejo a mulher como um ser essencial na administração, devido ao seu potencial, pela sensibilidade e força ao mesmo tempo, bem como pelas habilidades em gerenciar conflitos de uma forma humana e visionária. As mulheres vêm conquistando seus espaços no meio da Administração, mas ainda temos muito caminho a percorrer, ao ter que provar a nossa capacidade para assumir alguns cargos e desmistificar que alguns ambientes são apenas para homens.

É preciso aumentar as políticas públicas para incentivar as mulheres a buscarem seus direitos. Isso possibilitará a existência de redes de apoio para o desenvolvimento de suas tarefas, gerando as condições para competitividade no mercado de trabalho.

As ações da ADM mulher, nesse sentido, visam capacitar mulheres, promover autonomia econômica por meio de cursos de aperfeiçoamento profissional, rede de apoio e histórias de inspiração para que elas possam perceber o seu potencial e entender que não estão sozinhas. E também levar o conhecimento sobre leis e direitos que as protegem para que não se calem quando forem intimidadas no ambiente de trabalho.

 

Como é o cenário da administração em Alagoas? Existem muitas vagas e campos de trabalho para os profissionais da administração, e o que pode ser melhorado?

Existem vagas, porém é necessário ter capacitações específicas para ocupar esses espaços. A administração evoluiu e muitas áreas novas surgiram, portanto, há que se buscar as capacitações específicas, seja por meio de cursos técnicos, pós-graduação Lato ou Stricto Sensu, cursos livres, etc.

Em Alagoas, áreas como a Construção Civil, Turismo, Logística, Docência, Terceirização e Administração Pública, estão em pleno desenvolvimento e carecem de profissionais especializados em gestão

 

A senhora superou dificuldades e se tornou referência em seu estado, razão pela qual recebeu uma importante homenagem. Qual mensagem a senhora deixaria para as pessoas que largaram os estudos e para aquelas que pensam em voltar a estudar?

Deixo a mensagem de que a Educação é o Caminho. O conhecimento liberta e possibilita oportunidades de desenvolvimento da vida.

Complemento, ainda, dizendo que sejam inconformados com a realidade e com os cenários que nos limitam. Questionem e busquem fundamentar-se com informações, pois assim será possível com muita vontade de fazer e trabalho direcionado à transformação das pessoas, das empresas, dos órgãos, do mundo.