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Falta de padronização em tamanhos de roupas: problema ou oportunidade?

Ausência de sistema nacional de medidas de roupas e calçados pode ser empecilho ou oportunidade de mercado

Por Leon Santos

Ao comprar roupas e calçados no Brasil, quem nunca se deparou com a falta de padronização nos tamanhos dos produtos? Um tamanho ‘G’ ou ‘M’ de uma peça — e mesmo aqueles com numerações como 40 ou 42, seja para vestuários ou para sapatos —, por vezes, apresenta medidas diferentes entre as marcas.

Longe de ser mera impressão, a falta de padrão existe e incomoda boa parte, senão toda a população, segundo a coordenadora do curso de ‘Gestão Estratégica em Negócios de Moda’, da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paula Acioli. Embora haja um esforço realizado por instituições como ABNT e Senai/Cetiqt (ambas instituições privadas) para criar uma padronização nacional, o problema passa tanto pela multiplicidade étnica da população, bem como pelas faltas de organização e de iniciativa de empresas e instituições governamentais.

Um levantamento feito pela própria Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com cerca de 7 mil mulheres, mostrou que 76% das brasileiras têm um corpo retangular (ombros, cinturas e quadris alinhados). Porém, o formato mais vendido nas lojas é do tipo ‘violão’ (cintura fina e quadris mais largos), o que denota despreocupação com a necessidade dos brasileiros.

“Ainda não existe uma regulamentação oficial, mas têm sido feitos avanços importantes em pesquisas que podem resultar na padronização do vestuário nacional, sobretudo o feminino. Somos uma nação altamente miscigenada — e em constantes transformações, devido a mudanças nos hábitos e estilo de vida ao longo dos anos—, por isso a padronização irá auxiliar bastante empreendedores do segmento”, analisa a pesquisadora.

Segundo Paula, a falta de consenso sobre os tamanhos é um problema antigo e acontece também em outras partes do mundo. Porém, ela conta que na Europa muitos países se reuniram e criaram a resolução ‘EN 13402’, que padroniza as medidas em centímetros para cada peça de vestuário.

A resolução europeia leva em consideração a circunferência (medida do contorno de uma figura ou pessoa) tanto da cabeça, pescoço, tórax (para homens) e cintura quanto do busto e quadril (para mulheres). O documento inclui, ainda, o comprimento da perna, do braço, da mão, do pé e a massa corporal do indivíduo.

Impactos

A falta de padronização nas medidas de calçados e roupas inclui uma cadeia de problemas que passam pela logística (maior tempo para entrega e retorno) e pelos setores financeiro (com a devolução da mercadoria) e de processos (tempo perdido dedicado a uma venda mal sucedida). Porém, é sem dúvida no marketing que o prejuízo é maior: devido ao desgaste na reputação da marca e posterior tentativa de reconstrução da imagem e de relacionamento junto ao consumidor.

Segundo a professora de modelagem do curso de moda do Centro Universitário FAAP (SP), Fernanda Binotti, existe ainda um lado desconhecido pela população que é vivenciado pelas indústrias. Há marcas que compram produtos de fornecedores distintos e, por falta de padronização nacional, recebem peças com diferenças de medidas — mesmo em teoria sendo do mesmo tamanho —, o que baixa a qualidade das peças no mercado nacional e internacional.

“Com isso, uma calça (do tamanho) ‘M’ de um fornecedor de jeans é diferente da calça M do fornecedor de alfaiataria. Esse problema afeta tanto clientes de lojas físicas, que não sabem qual tamanho pedir, quanto das lojas on-line, que não têm segurança e confiança no ato da compra”, destacou.

Fernanda conta que a maior parte das trocas de peças compradas pela internet se deve a problemas de tamanhos errados. Para ela, a solução de curto prazo e de forma interna, nas organizações, é criar um processo de conferência de qualidade de medidas: tanto na etapa de desenvolvimento dos produtos (nas indústrias) quanto no recebimento das produções (comércio).

“Uma dificuldade vivenciada por algumas marcas tem relação com a necessidade das mercadorias nas lojas. Se devolvem as produções que estão fora das medidas, acabam ficando os produtos (encalhados)”, diz.

Oportunidade

Ainda que o Brasil ainda não tenha um padrão de tamanho dos vestuários, colocar as medidas (em centímetros) na descrição das peças pode ser uma saída. Porém, embora a ideia seja boa, é preciso ainda atentar-se em colocar todos os detalhes como, por exemplo, as larguras da cintura e das coxas, de uma calça, ou mesmo da largura e do tamanho da manga de uma camisa.

De todo modo, na ausência de uma padronização, sai na frente aquele que utilizar a criatividade para sanar uma necessidade evidente e solucionar um problema de nicho de mercado. Adotar um padrão, mesmo não sendo brasileiro (já de olho nas vendas internacionais) ou mesmo descrever minuciosamente as medidas são possíveis saídas, contanto que no fim garanta a satisfação dos clientes e o crescimento das vendas.

Por Leon Santos – Assessoria de Comunicação CFA

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