Para o presidente do CFA, Wagner Siqueira, problemas no setor podem ser sanados com apoio de profissionais qualificados em administração.
A saúde pública é um dos setores que mais sofre com a falta de gestão no país. Faltam leitos em hospitais, medicamentos, profissionais e até insumos do dia a dia como seringas e gazes. Enquanto o setor aguarda por iniciativas que possam mudar essa realidade, a sociedade perece nos prontos socorros de todo o país.
Casos não faltam para ilustrar o quanto a saúde é mau gerenciada no Brasil. Um dos casos mais recentes aconteceu no estado de São Paulo. Após auditoria da Controladoria Geral do Município, órgão da prefeitura de São Paulo, ficou comprovado que o Hospital do Servidor Público Municipal desperdiçou cerca de R$ 10 milhões devido a sobrepreço em exames como ultrassonografias e tomografias.
O dinheiro desperdiçado poderia ser investido em outras demandas da saúde como a construção de Unidades de Pronto Atendimento, por exemplo. Segundo o presidente do Conselho Federal de Administração (CFA), Adm. Wagner Siqueira, o problema começa com a falta de clareza sobre o que é gestão, pois os dirigentes do serviço público nem sempre possuem formação específica em administração ou gerência. “Eles restringem-se à direção técnica de sua gestão e não à direção executiva. Talvez até mesmo o termo executivo pareça-lhe inadequado à sua posição, função ou papel. Aí, todavia, é que está concentrado o equívoco fundamental: o da concepção das atividades que um gerente deva desempenhar”, diz.
Ele explica, ainda, que o próprio sistema de seleção é um dos pontos mais falhos na constituição de um quadro gerencial qualificado para a administração. “O engenheiro mais destacado por suas qualidades técnicas não é, necessariamente, a pessoa mais adequada para dirigir um distrito rodoviário”, exemplifica o presidente do CFA.
Administração em Saúde – Os problemas ocasionados pela ingerência na saúde pública podem estar longe de acabar. É que o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a Resolução CFM nº 2.149/2016, que definiu a “Administração em Saúde” como área de atuação e especialidade médica.
O CFA já se posicionou sobre o assunto e, por meio de ofício, pediu para que o CFM revogasse o do art. 1º, incisos ‘B’ e ‘D’, Anexo da Resolução nº 2.149/2016. Para Wagner Siqueira, tal Resolução é uma afronta aos profissionais de Administração. “Essa medida é um desserviço à população, pois desvirtua o médico para algo que é privativo de outra profissão. E é exatamente em razão da ausência do profissional de Administração na gestão das organizações que prestam serviços de saúde, que a sociedade tem sofrido profundamente com serviços de saúde de péssima qualidade”, defendeu o presidente.
Em resposta ao ofício, o CFM disse que “apesar da direção administrativa de serviços de saúde não constituir atividade privativa de médico, os médicos não estão proibidos por lei a praticá-la.”. O Conselho explica que apenas seguiu as orientações contidas na Lei nº 12.842/2013 e, por isso, acredita que não há nada para ser modificado ou revogado na Resolução contestada pelo CFA.
Exemplo de gestão profissional – Na contramão das outras cidades brasileiras está Igaci, um município do interior de Alagoas, localizado a 150 km de Maceió. A cidade é a terceira mais pobre do Estado, mas a falta de recursos não intimidou Aérton Lessa Limeira. Desde que o administrador assumiu a Secretaria da Saúde do município, ele tem voltado os esforços para melhorar a saúde pública local.
Aerton conseguiu inovar na gestão de saúde com atitudes simples. A primeira delas foi focar na inovação tecnológica para suprir uma carência antiga do município: a falta de informação sobre a saúde da população. Para tal, muniu os agentes de saúde com tablets simples para otimizar a coleta de dados em saúde que, antes, eram feitas por meio de formulários em papel.
Com o uso de um aplicativo que não necessita de internet, os agentes coletam os dados, fazem registros fotográficos e ainda identificam o local usando o GPS. Ao retornarem aos postos de saúde, o tablete sincroniza os dados automaticamente e, a partir de então, ficou mais fácil localizar, por exemplo, onde estão as gestantes e doentes crônicos da cidade. O mapa virtual localiza, ainda, os focos do mosquito da Dengue e mostra como está a atuação dos agentes de saúde.
As inovações não param por aí. Aérton focou, ainda, na prevenção em saúde básica a fim de evitar os problemas antes que eles aconteçam. Por falta de profissionais e recursos, o jeito foi, mais uma vez, contar com o apoio da tecnologia. As pessoas cadastradas no sistema recebem com diariamente mensagens de texto sobre saúde e bem-estar. Caso tenha alguma dúvida e/ou problema, o usuário basta responder a mensagem para receber auxílio dos profissionais de saúde antes mesmo de ter que ir ao pronto-socorro.
Foi criado, ainda, um aplicativo que auxilia o cidadão a agendar a retirada do seu medicamento na farmácia mais próxima de casa, reduzindo desperdícios e desvios com remédios em mais de 20%.
Para Wagner Siqueira, esse é um bom exemplo de como a gestão profissional pode ajudar a resolver boa parte dos problemas do país. “O processo decisório da administração pública deve ser sensivelmente renovado. Há que se pensar em mudanças de escala e métodos para que a área de saúde do governo alcance, de pronto, os elementos que hoje operam a máquina administrativa, qualificando-os para atuar como gerentes públicos eficazes, utilizando todo o arsenal moderno de técnicas de gestão, destacando-se o uso intensivo e adequado dos sistemas de informação que, valorizados em sua justa dimensão, serão a grande cunha da renovação e modernização da área de saúde.”, afirma o presidente do CFA.
Ana Graciele Gonçalves
Assessoria de Imprensa CFA