Descentralização e uso da tecnologia: como o candidato Ricardo Young, da Rede, pretende aproximar a gestão pública do empreendedorismo
Em breve, os paulistanos irão às urnas para eleger o Prefeito dos próximos quatro anos da cidade. As campanhas estão ganhando corpo, as bandeiras estão sendo hasteadas e as propostas propagadas. Ou seja, é o momento certo para fazemos algumas perguntinhas fundamentais: e o empreendedorismo? Qual é a relação de cada postulante com o tema? Como eles pretendem incentivar a atividade empreendedora na cidade e, em consequência, a geração de empregos?
Foram essas indagações que deram origem ao movimento + Empreendedores + Empregos, promovido por diversas organizações do ecossistema empreendedor brasileiro. Trata-se de uma série de encontros com candidatos para que apresentem suas visões sobre as relações entre empreendedorismo e gestão pública. O primeiro a participar dos eventos em São Paulo foi Ricardo Young, da Rede Sustentabilidade, que foi sabatinado por Juliano Seabra, Diretor-Geral da Endeavor, Carlos Henrique Pegurier, mentor da organização, e Fabiana Salles, fundadora e CEO da Gesto Saúde.
O debate aconteceu em um espaço bastante propício: a Oxigênio Aceleradora, bem no centro de São Paulo. Toda a conversa foi acompanhada de perto por diversos empreendedores da cidade e pelas equipes das startups que estão ali, encubadas, buscando o crescimento e, em consequência, a geração de mais empregos.
- Velhos modelos não resolvem velhos problemas
Ricardo Young começou expondo sua visão sobre as relações entre poder público e empreendedorismo. Em sua fala, radiografou a desigualdade que, para ele, é o principal problema da capital paulistana. Analisando as disparidades entre regiões, atribuiu-as ao grande inimigo da gestão pública atual: o governo de coalizão.
De acordo com Ricardo, esse modelo tem apenas um verdadeiro objetivo: a preservação do poder. “É a manutenção do poder acima do interesse coletivo, do interesse público”. Ele também afirmou que é nesse modelo que entram todas as negociatas que resultam nas coligações partidárias que, por fim, levam à multiplicação de cargos que encarecem a gestão.
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Para alterar essa configuração, o candidato da Rede propõe uma estratégia de ruptura, e aqui, finalmente, entramos em território familiar ao empreendedor: Young defende que o estado mobilize o capital já existente para tornar a gestão pública mais eficiente.
Ele também propõe que se reduza o tamanho de órgãos públicos e que se estabeleçam alianças entre o setor público e os empreendedores, as parcerias público-privadas, cuja adoção seria “radicalizada para servir aos interesses públicos”. E esses interesses seriam identificados pela atenta observação dos “territórios” da cidade.
O empreendedor, assim, exerceria papel central na ruptura com os modelos tradicionais de governança, que Ricardo Young resume da seguinte forma: “De cidadão sob controle a cidadão no controle. De Governo para o cidadão a governo com o cidadão. De Governo como provedor de serviços para Governo como facilitador, como intermediário de serviços”.
- Distância entre Governo e empreendedorismo
Ricardo Young foi abordado sobre sua trajetória empreendedora para explicar os motivos que levam políticos em geral a manter tanta distância do mundo empreendedor.
O candidato começou afirmando que o problema talvez seja ainda maior do que um simples distanciamento: “o Governo não enxerga o empreendedorismo”. Ele atribui a “cegueira” ao fato de que o poder público trabalha sempre com “macro problemas e macro decisões”, um contexto em que, aparentemente, startups não têm vez. Ele aponta o equívoco de se considerar o “emprego tradicional” como a salvação da lavoura:
“Foi [solução] no século vinte. Existem empregos tradicionais que são importantes, claro; mas a grande forma de fazer avançar a geração de renda numa cidade como São Paulo, por exemplo, é estimular o empreendedorismo”.
Young também acusou a ausência de processos de inovação na gestão pública. Por conta disso, o Governo simplesmente não consegue dialogar com esta nova força.
- Como a Prefeitura pode consumir as inovações dos empreendedores
A seguir, o candidato foi indagado a respeito da Lei Federal 8.666, de licitações e contratos. O dispositivo é considerado por muitos uma das principais causas de corrupção e engessamento do Estado, por emperrar processos de compra e impedir a aproximação com o empreendedorismo. E a questão principal é: como a Prefeitura poderia consumir inovação sem esses entraves?
Ricardo Young apontou para o fato de que a Lei foi instituída (1993) antes que a tecnologia permitisse maior transparência às licitações. “Hoje, é possível substituir a lei por processos mais transparentes, como leilões reversos na internet”. São mecanismos que tornam as compras públicas mais ágeis e idôneas. Mas que não são utilizados pelo poder público — porque não há interesse pela transparência.
- O incentivo às parcerias público-privadas
A próxima pergunta foi a respeito de iniciativas que incentivem a criação e o desenvolvimento de startups. Para respondê-la, Ricardo Young retomou a questão dos territórios. Citando como exemplos os problemas de saneamento da cidade, mencionou o caso da Aquapolo, empresa que “transforma água poluída em semipotável numa rapidez extraordinária e num volume incrível”.
No entanto, ele afirma que não há incentivos ao empreendedorismo para que essa tecnologia seja disseminada. A solução, afirma Young, é estimular as parcerias público-privadas. É fazer o diagnóstico preciso de cada território “para não dispensar recursos”. E quando o diagnóstico for feito, o candidato promete identificar quais as iniciativas empreendedoras podem responder melhor às demandas levantadas.
- A relação entre políticos e gestores
Por meio de perguntas, o público presente também participou ativamente do debate. Uma delas foi sobre a dificuldade enfrentada por governantes atuais de manter em suas gestões profissionais competentes, mas que não são políticos. Como evitar que estes quadros acabem sendo “expelidos”, como tem acontecido?
Ricardo Young foi enfático: “rompendo com a governança de coalizão”. Segundo ele, os profissionais sem ligação partidária são afastados do sistema porque o Governo “tem que ficar pagando esta conta da coalizão”. Tem que ocupar cargos com os indicados pelos partidos.
Carlos Henrique Pegurier, então, lembrou que Fernando Haddad teve tal intenção ao nomear técnicos para secretarias do Município. E perguntou ao candidato da Rede o que ele faria de diferente.
Young atribuiu o fracasso governo de coalizão do Prefeito, o qual não permitiu o avanço desse movimento. Afirmou que vai “olhar para pessoas, e não partidos” para montar seu secretariado. E que, para vencer o território do jogo político, vai contar com o apoio da população “o que acontece quando você chama as melhores pessoas para governar? A sociedade te respeita. A sociedade olha para aquelas pessoas e diz: estamos em boas mãos”.
- Estratégias para obter apoio na câmara
Juliano Seabra perguntou como Young pretende obter apoio na Câmara, se, como o candidato coloca, os vereadores se acostumaram ao governo de coalizão. O candidato, mais uma vez, mencionou o respaldo da população. Salientou que o apoio da sociedade vem conferindo uma força aglutinadora a grupos de vereadores, por meio da qual importantes mudanças vêm acontecendo, como a da Lei de Zoneamento, a regulamentação do transporte privado etc. “Se tem uma coisa que os vereadores respeitam é a pressão popular”.
Para terminar a conversa, Ricardo Young foi convidado a completar a seguinte frase: “empreender é…”. O resultado foi o seguinte: “Empreender é ter resistência, paciência, tolerância e desafio. Portanto, empreender é ter sabedoria”.
Nota: no dia 06/09, João Dória Jr. (PSDB) participa da Sabatina. Fernando Haddad (PT), conversa com empreendedores no dia 09/09. Celso Russomano e Marta Suplicy foram convidados, mas ainda não confirmaram presença. Luiza Erundina foi convidada e declinou.
Leia mais em Endeavor @ https://endeavor.org.br/debate-ricardo-young/