Cabe aos profissionais de Administração oferecerem ao Brasil uma ajuda concreta para libertá-lo do caminho das soluções fantasiosas
Crise tem sido a palavra da vez no vocabulário brasileiro há alguns anos. O pesadelo financeiro vivido pelo país, aditivado da esquizofrenia política que o acompanha, é o motivo da perda de sono de mais de 13 milhões de famílias, vítimas do desemprego. Entretanto, a preocupação é geral frente a instabilidade de preços, riscos para o comércio exterior, retração de investimentos internacionais e fragilidade cambial, além da decadência qualitativa dos já ineficientes serviços prestados diretamente pelo Estado. Se o Brasil fosse uma empresa, seu Conselho de Administração estaria certamente imerso em um plano de recuperação judicial.
É lógico que as finalidades estatais são diferentes das empresariais. Mesmo assim, os dois tipos de organismo se assemelham quanto à essência de suas atividades. Ambos têm áreas financeira, de pessoal, de serviço, de logística, entre outras. Sabendo disso, nós, administradores, devemos entrar na ciranda da desesperança que vive o brasileiro, ou olhar o Estado de maneira crítica, criteriosa e ativa, com o propósito de identificar e solucionar os problemas? Como administrador, acadêmico de Administração e presidente do CFA, sei que estamos aptos a agir.
A causa de maior destaque midiático para a crise brasileira é a corrupção. É um mal que atinge grandes proporções em nosso país e que, infelizmente, se aperfeiçoou desde a redemocratização do Brasil. Contudo, basta um olhar cuidadoso para ver que esse não é o motivo mais expressivo da tragédia nacional. O baixíssimo nível profissional na gestão pública, atrelado ao seu inadequado desempenho, é o verdadeiro protagonista do pesadelo que enfrentamos e da não entrega de serviços públicos de qualidade. Mais do que desviados, os recursos públicos são toscamente mal versados, do âmbito municipal ao federal.
O infortúnio começa ainda nas movimentações políticas, regadas a troca de cargos e favores por apoio no que for conveniente. O resultado são gestores despreparados, em cargos e pastas estratégicas, tomando atitudes equivocadas. Quando o país não tem um plano estratégico de nação, ele se torna refém de programas de governo casuísticos e de interesses desconectados do povo. O que justifica a compra de vagões de metrô que ficarão em desuso por décadas, até se tornarem obsoletos? Ou de equipamentos médicos ultramodernos, que nunca serão usados? Será que é coerente sacrificar o setor de pesquisa e a educação, o bem público mais precioso de uma nação, – oportunizando grave prejuízo ao país, em longo prazo – a fim de adquirir ínfimo fôlego orçamentário momentâneo?
À primeira vista, fica evidente que o Brasil precisa de socorro. Não me refiro a uma ajuda sobrenatural, ou à chegada de um salvador da pátria ou da fada madrinha – esses ficam para os roteiros de cinema. É de um auxílio sóbrio, exaustivamente dedicado, amplamente consciente e, numa perspectiva profissional, estéril à atmosfera política; o tipo de auxílio do qual o país carece. O nome desse apoio é Administração, com “A” maiúsculo, aquela científica e, por mais de um século, estruturada por estudiosos espalhados pelo globo.
Mais do que legítima, nossa ação é necessária. Estamos em uma posição privilegiada em meio ao caos: conseguimos observar claramente o cerne do problema olhando os sintomas, pois sabemos que estes são efeito e não causa. No entanto, se essa lógica é clarividente entre os membros da comunidade da Administração, é preciso assumir que é obscura e até desconsiderada pela população em geral e, o pior, por muitos líderes municipais, estaduais e federais. Nossa responsabilidade é reverter o quadro.
É urgente que o profissional de Administração se coloque à frente das forças que desejam reorganizar o desenvolvimento do Brasil, passando invariavelmente por sua recuperação econômica. Precisamos ser os protagonistas da elevação nacional, analisando e apontando falhas, propondo e executando ações capazes de reerguer a economia do país de maneira sustentável e duradoura. O caminho da gestão profissional não é a varinha de condão da fada madrinha; ele é árduo, eclético, sistêmico, dialético e paulatino, requer esforço, resiliência e constância para verter resultados. Quem por ele percorrer, jamais correrá o risco de se transformar em abóbora.
Adm. Mauro Kreuz
Presidente do Conselho Federal de Administração
CRA-SP nº 85872