2016 tem sido um ano atípico e, diga-se de passagem, bastante intenso e dinâmico. Não bastasse a crise política que o Brasil enfrenta, o país foi sede de importantes eventos mundiais esportivos e, atualmente, está em pleno curso as Eleições Municipais.
No pleito deste ano, serão escolhidos prefeitos e vereadores dos 5.568 municípios brasileiros. Diferentemente das eleições municipais passadas, os postulares ao Executivo e Legislativo enfrentam, em 2016, muitos desafios.
Um deles é, sem dúvida, convencer o eleitor desacreditado. O desânimo com a política é tamanha que cresce o número de eleitores que, nas últimas pesquisas, não opinou ou manifestou sua preferência eleitoral.
A culpa dessa apatia é, em parte, dos escândalos envolvendo parlamentares, empresários, partidos políticos, autoridades, entre outros. A crise ética e moral atingiram tanto a situação quanto a oposição. Não há mais “mocinhos” e “bandidos” nesse jogo do poder: pelo andamento das investigações, todos os envolvidos em tramas indecorosas estão, ou estarão, amargando as duras consequências de tais atos vergonhosos.
Em um cenário político desfavorável para todas as legendas, em quem depositar confiança? Parece laborioso acreditar que será possível mudar para melhor o destino de tantos municípios apenas com um simples clique na urna eletrônica. É difícil, mas não impossível. Apesar de tais vicissitudes, é preciso enxergar o futuro com otimismo.
A gestão póstera que teremos nos próximos quatro anos dependerá da postura que o eleitor adotará diante dessas eleições. Infelizmente, muitos cidadãos sequer lembram em quem votou no sufrágio passado. A indiferença ajuda a gerar uma espécie de analfabetismo que, segundo o dramaturgo Bertold Brecht, é o pior tipo de todos porque o analfabeto político “não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.”.
Abandonar o debate político por conta da crise é, literalmente, abrir mão de um direito que foi conquistado a duras penas. No Brasil Colônia, o voto era um privilégio de homens abastados. A mulher só conquistou esse direito em 1932 e, na época da ditadura, ninguém votava já que a eleição era indireta. Somente com a Constituição Federal de 1988 é que o sufrágio universal passou a vigorar neste país.
Em uma rápida análise histórica, percebemos que a nossa democracia é ainda bem jovem. E qual o futuro queremos para ela? Os próximos anos dependerão desse cuidado atento do eleitor. Afinal, saber escolher os próximos representantes do Executivo e Legislativo é, antes de tudo, um ato de cidadania.
O voto arguto e inteligente pode, sim, fazer diferença. Analisar a plataforma do candidato, seu histórico profissional e a sua postura diante das crises políticas é o primeiro passo para votar consciente. Parece inacreditável, mas mesmo com as novas regras eleitorais determinadas pela Lei nº 13.165/2015, também chamada de Reforma Eleitoral, que determina, por exemplo, que os candidatos não podem receber doações de pessoas jurídicas, o Tribunal de Contas da União encontrou indícios de fraudes em 34% das campanhas. Isso prova que muitos candidatos não cumprem a lei, demonstrando, desde já, que não terão competência para gerir a coisa pública.
Candidatos com essa postura ilícita, com passado cheio de más condutas morais e que oferecem benefícios em troca de voto certamente continuarão, uma vez eleitos, a promover a corrupção. Portanto, nós não podemos nos omitir quando o assunto é política. Fechar os olhos para este assunto é negligenciar o futuro do país. Pior: essa ignorância contribui para um dos piores males da atualidade: a corrupção.
Portanto, um futuro melhor dependerá do voto consciente de cada cidadão. Saber tomar uma decisão madura e refletida diante das urnas contribuirá para afastar a figura ímproba que tanto envergonha a história do Brasil.
Adm. Sebastião Luiz de Mello
Presidente do Conselho Federal de Administração
Fonte: CFA