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ESG no Mundo – tema se torna obrigatório nas dinâmicas empresariais

Na Europa, empresas têm até 2027 para adotar prática. No Brasil, o setor cresce, mas empresas ainda precisam de direcionamento e qualificação

Muito se fala sobre a importância das práticas sustentáveis, conscientes e bem gerenciadas para o sucesso dos negócios. Mas afinal, o que é preciso para que uma empresa seja, de fato, inserida nas categorias principais de considerações do ESG: Ambiental (E), Social (S) e de Governança (G)?

Segundo o diretor executivo da Focus Consultoria e Treinamento, administrador Eduardo Oliveira, o Brasil possui selos e regras claras para caracterizar empresas ambientalmente e socialmente responsáveis. Por meio da norma PR 2030, da ABNT, que foi baseada nas normas internacionais ISO, é possível identificar ações que estão dentro da proposta ESG.

A norma “ABNT PR 2030 – ESG” apresenta conceitos, diretrizes e modelo de avaliação e direcionamento para organizações. De acordo com Oliveira, ela é considerada um trabalho pioneiro no Brasil, pois faz o alinhamento dos principais princípios ambientais, sociais e de governança e orienta os passos necessários para incorporá-los nas empresas; no entanto, não é a única regra que direciona o mercado.

“Temos a ‘gestão ambiental’ regida pela ISO 14001; a parte social ou de ‘responsabilidade social’, pela ISO 16001; e a ‘governança corporativa’ que contempla a otimização e gestão da qualidade, constantes na ISO 9001. Além disso, temos a ISO 37301 que é sobre gestão de Compliance. Essas normas são importantes para caracterizar cada avanço das empresas, por isso pode ser considerada uma iniciativa pioneira no Brasil”, explica Oliveira.

A adoção de práticas de sustentabilidade ambiental, social e de governança avançou no Brasil em 2023. Segundo levantamento da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), 71% das empresas implementaram ou iniciaram pelo menos uma das ações ESG. O estudo ouviu executivos de 687 organizações e indicou aumento de 24 pontos percentuais na curva de adoção de ESG no ano passado.

Valor

O interesse pelo tema tem ganhado destaque à medida que as mudanças climáticas exigem soluções para salvar o planeta de catástrofes e quando surgem necessidades para garantir um ambiente de trabalho mais justo e igualitário. O tema ESG nunca esteve tão em alta, e serve para valorizar empresas que o adotam e aumentam seu valor de mercado.

“Eu fiz o valuation (avaliação de valor corporativo) da minha empresa, e com essas práticas implantadas houve um plus que chega a 25% do valor anterior. Por outro lado, para quem quer valorizar e vender, soube que meus clientes que são certificados, e que têm essas práticas implantadas, foram comprados facilmente por grandes grupos financeiros”, revela Oliveira.

Para o administrador Marcos Rocha Martins, especialista na Agenda 2030 da ONU e head em ESG, empresas que se preocupam em adotar boas práticas com relação ao tema ganharão maior destaque econômico e espaço no mercado ao gerar impactos positivos ao meio ambiente e à sociedade. Ele destaca que não apenas os valores tangíveis são agregados à organização, mas também valores intangíveis como respeito e credibilidade.

“As empresas instaladas no Brasil que estão fazendo seu dever de casa, na questão do ESG ou da Agenda 2030, se baseiam na matriz GRI, que serve como avaliação de impacto para os acionistas e para os consumidores dos seus produtos e serviços em âmbito internacional. Essas organizações agregam valor aos seus produtos, pois tem preocupação de investir na sustentabilidade e sabem que o tema é importante, isso representa até mesmo a manutenção do crescimento econômico”, diz Martins.

Desafios

Quem não se adequar à agenda ESG pode encontrar barreiras pela frente, principalmente comerciais. A partir de 2027, a União Europeia, composta por 27 países, vai exigir dos fornecedores o respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. Empresas que não fizerem a verificação de suas cadeias de valor podem ser multadas em até 5% da receita.

A falta de qualificação para implementação das práticas ESG, com o alinhamento de todas as etapas do processo — do planejamento até sua execução e avaliação — é apontada como uma das grandes responsáveis por manter as empresas distantes da evolução da agenda no Brasil. Para Eduardo Oliveira, a formação em administração capacita parcialmente seus estudantes, no entanto, ele ressalta que ainda assim é preciso buscar qualificação mais específica.

“Como profissional de administração, a gente já estudou de forma picada (separada) uma série de coisas que são enquadradas pelo ESG. Mas o profissional que se interessa pela área deve buscar capacitação, principalmente focada nas normas sobre o tema”, analisa Oliveira.

Outro desafio é assegurar a efetividade das práticas ESG. Levantamento da consultoria Bells & Bayes mostrou que 63% das empresas listadas no segmento ‘Novo Mercado’ da B3 publicaram relatórios de sustentabilidade em 2022; no entanto, apenas 29% tiveram dados auditados ou assegurados externamente, o que indica expansão do setor, porém que há pouca comprovação.

 Por Adriana Mesquita – Revista RBA/ CFA