Escassez da água também é falta de gestão

Falta de planejamento para gerenciar o setor é uma das causas apontadas para a crise vivida em boa parte do país.

No úlagua1.jpgtimo dia 22 de março, pessoas de vários lugares do mundo celebraram mais um Dia Mundial da Água. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas ((ONU) para proporcionar um momento de reflexão sobre o uso deste bem natural. A razão para preocupação mundial sobre o tema é que apenas 0,008% da água do planeta é própria para o consumo. Além disso, a ação predatória do homem, somada a poluição e a contaminação, põe em risco a vida de rios, lagos e outros mananciais.

Essa realidade não é muito distante do Brasil, país rico em água doce – cerca de 12% do total existente no planeta está aqui. Entretanto, o mau uso dos recursos hídricos está deixando boa parte dos brasileiros com a torneira seca. Em São Paulo já aconteceu um grave racionamento e, mais recentemente, o Distrito Federal, que sofre com a escassez hídrica e adotou sistema de rodízio da água para sanar o problema.  Isso sem falar que metade da população não tem acesso a serviços básicos de esgoto.

Para o presidente do Conselho Federal de Administração (CFA), Adm. Wagner Siqueira, o setor sofre com a má gestão. “O governo não se planeja, não adota medidas a longo prazo. Quando a coisa aperta, recorre a atitudes paliativas que não vão resolver a questão no futuro”, afirma, lembrando que a população tem sua parcela de culpa por achar que a água é infinita. “Existe, ainda, muito desperdício. Infelizmente esse é um problema cultural. As pessoas, no Brasil, estão acostumadas a esbanjar e lavam a calçada com água, por exemplo.”, alerta.

Essa também é a opinião do consultor e sócio da Ecotrade, Adm. José Antônio Campos Chaves. O especialista falou sobre saneamento básico no Debate Qualificado promovido pelo CFA em março. De acordo com ele, “o problema está no equilíbrio de interesses entre a tríade cidadão, empresa concessionária do serviço e o governo, sendo que nessa relação há muitos riscos. Risco de alteração de tarefa, risco de abuso de monopólio, risco de quebra de contrato, entre outros.”.

Um outro ponto levantado por Antônio Chaves é o baixo custo do litro da água, o que faz com que ocorra muito desperdício. Para mostrar melhor o problema, Chaves comparou o valor da água com outros produtos. Mil litros de água, por exemplo, chega a custar meio minuto de uma ligação de celular o que, para o palestrante, é um valor irrisório. “Essa questão da conscientização da água não é só uma questão de escolha política. Essa questão está dentro de casa, na educação que damos aos nossos filhos”, diz.

Enquanto o governo patina na gestão dos recursos hídricos, estima-se que o acesso universal a saneamento básico leve, pelo menos, 20 anos. O setor ainda carece de muito investimento e, uma das saídas, seria as parcerias público-privadas. Chaves diz que muitas empresas privadas querem investir no país, mas encontram muitas barreiras. “O problema começa no marco regulatório, pois a forma como o contrato é estabelecido é muito ruim. O setor público interfere demais, as leias são rígidas, mau usadas e burladas. A falta de tradição brasileira em honrar contrato quando se trata de administração pública é um grande problema na gestão desse setor”, critica o especialista.

O Debate Qualificado sobre saneamento básico está disponível no canal do CFATV no Youtube. Acesse: www.youtube.com/cfatvoficial.

Ana Graciele Gonçalves

Fonte: Assessoria de Imprensa CFA