Adm. Mauro Kreuz
O ano de 2020 começou com um alerta na área da saúde. Na China, mais precisamente na região de Wuhan, um novo vírus se espalhou rapidamente, fazendo mais de duas mil mortes e, em todo o mundo, até o momento, foram registrados 81.722 casos. O vírus, da família do coronavírus e que ataca o sistema respiratório, fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar emergência internacional.
Em pouco tempo, o Covid-19 – doença causada pelo novo coronavírus – chegou a outros países do ocidente. Infelizmente, o Brasil acaba de registrar o primeiro caso confirmado da doença. O paciente é um o homem de 61 anos que teve contato com 30 pessoas da família e com passageiros que estiveram próximos a ele no voo que fez quando retornou da Itália ao Brasil, com escala em Paris.
Todas as pessoas estão sendo monitoradas. O Ministério da Saúde do Brasil se pronunciou e, além do caso confirmado, outros 20 estão sendo monitorados. Apesar disso, o ministério diz que o país continua no terceiro e último nível de alerta. No momento, o Brasil está em fase de contenção para evitar que o agente infeccioso do Covid-19 avance em solo nacional.
Ora, sabemos que a saúde é uma das áreas mais afetadas pela ingerência pública em nosso país. Ao contrário da China, que levantou um hospital em seis dias para tratar vítimas de coronavírus, o Brasil ainda peca em oferecer tratamento digno para a população. Faltam leitos, e infraestrutura básica em muitas unidades de saúde, o atendimento é desumano e, na imprensa, diariamente assistimos indignados o drama de quem precisa de atendimento.
Preocupa-nos a estratégia para conter o avanço do novo coronavírus. O Ministério da Saúde já reconheceu que a doença dificilmente será contida no Brasil, mas que não há motivos para pânico. Em um país onde um minúsculo mosquito não consegue ser controlado e que já matou milhares com a dengue, adoeceu outras tantas com a febre Chikungunya e provocou a microcefalia em dezenas de bebês que, ainda no útero materno, foram contaminadas com o zika vírus, o que esperar do plano de contingência do avanço de um coronavírus que é transmitido pelo ar e pelo contato pessoal?
Por isso, é impossível não entrar em pânico! A saúde é um grande gargalo que o Brasil precisa enfrentar com coragem. Ela é um direito constitucional, mas ele não é garantido por falta de gestão profissional. As faculdades de Medicina preparam os futuros médicos para realizarem diagnósticos, cirurgias e receitarem tratamentos e medicamentos. Contudo, não preparam esse profissional para a gestão financeira, o controle de estoque, a gestão patrimonial, o gerenciamento de recursos humanos, entre outros.
Mesmo assim, não raro vemos médicos ou outros profissionais da saúde em postos de gestão, seja em hospitais ou em secretarias de governos – federal, estaduais ou municipais. O próprio Ministério da Saúde instituiu, por meio do novo Plano Nacional de Atenção Básica, a figura do Gerente de Atenção Básica. Da forma como está hoje, esse cargo está aberto para qualquer profissional de nível superior.
É evidente que, sem o conhecimento de gestão, que é inerente aos profissionais de administração, mais cedo ou mais tarde a corda vai arrebentar. Quem paga o preço? A sociedade, é claro!
A saúde é um setor com imensa necessidade de gestão profissional. Ciente disso, o Conselho Federal de Administração instituiu a Comissão Especial de Estudos sobre a inserção dos profissionais de Administração na Política de Saúde, que vem trabalhando com afinco para profissionalizar a área e garantir que esse espaço seja ocupado por quem entende do assunto.
A Gestão em Saúde, tocada por profissionais capacitados e habilitados, contribuirá muito para a melhoria da gestão e evitar os problemas graves que a saúde enfrenta atualmente. Para provar isso, o CFA criou uma série focada no assunto. Em três episódios, buscamos desmistificar o Sistema Único de Saúde (SUS) como sendo de baixa qualidade.
Para provar o contrário, a série mostrou casos de sucesso que ilustram a potência do SUS quando bem gerenciado. Porém, os exemplos apresentados são raros no Brasil, eles são pontos fora da curva.
Mas são esses exemplos que devem ser seguidos. Não há dúvidas, portanto, de que a gestão eficiente é interessante para todos: para a sociedade, que receberá serviço público de qualidade, e para o governo, que economizará muito mais com o uso assertivo dos recursos.
Enquanto a verdadeira mudança na forma como a gestão em saúde é feita em nosso país não acontece, torcemos para que as autoridades encontrem uma solução eficaz e realista para o Covid-19. Para problemas tão complexos não existem soluções simples, mas com vontade política será possível achar a cura ampla e definitiva para o coronavírus e todos os males de saúde enfrentados pelo Brasil.
Adm. Mauro Kreuz
Presidente do Conselho Federal de Administração