O que você faz com o lixo que produz? Onde você mora existe um programa de resíduos sólidos? No ano da COP-30, em Belém do Pará, essas e outras questões foram levantadas na palestra “Economia circular e gestão de resíduos sólidos”, que aconteceu durante o XXIX Encontro Brasileiro de Administração.
Para falar do assunto, subiu ao palco a presidente da Cooperativa Concaves, Débora Baia. Ela é técnica em Logística Reversa e Gestora Ambiental e, há 12 anos, atua na sustentabilidade, com foco em reciclagem e inclusão produtiva. Na oportunidade, ela compartilhou a sua história com o público.
Na palestra, ela ressaltou a importância da coleta seletiva e da necessidade de a sociedade se comprometer com o descarte correto do lixo que produz. Débora comentou que o Brasil tem uma política de resíduos sólidos, mas que não é colocada em prática. “Nós, como cidadãos, temos que fazer nossa parte e exigir do poder público que ele faça a parte dele”, alertou.
E a gestão de resíduos não é apenas sobre a forma como o lixo é descartado. Débora comentou que tudo começa quando o produto está em produção. “A partir do momento que a empresa extrai aquele biótipo da natureza, ela tem que pensar como é que essa embalagem vai circular e por onde ela vai passar e qual vai ser o pós-consumo dela”, afirmou.
O design entra em cena justamente para trabalhar essa preocupação até o final do pós-consumo. “Além também da toda a linha de produção desses materiais, eles são pensados de forma a reduzir o custo de energia, a reduzir o consumo de água. O transporte e a distribuição também é pensado de uma forma mais sustentável. Hoje, tem grandes empresas que estão trocando os seus veículos por veículos elétricos.”, mostrou a gestora.
Por sua vez, o consumidor tem que pensar que tudo aquilo que ele vai buscar no supermercado, ele vai usar e, depois, para onde aquele produto vai? “Então, quando a gente trata os nossos resíduos com responsabilidade, que a gente tem a consciência de tudo aquilo que a gente está consumindo e aquilo que a gente vai descartar, ele vai, por exemplo, pra reciclagem, gera vários benefícios.”, disse.
Reciclagem
Segundo Débora, a reciclagem fecha esse ciclo de produção, consumo e descarte. “Aquele resíduo pós-consumo, aquela embalagem pós-consumo, ela vai ter um ciclo ainda de sobrevivência até voltar novamente pra reciclagem muito importante. Por quê? Vai gerar trabalho, vai gerar renda. Das associações de catadores, principalmente a partir do momento que esse resíduo retorna novamente para a indústria, ele faz com que a natureza seja preservada, porque vocês imaginem uma tonelada de garrafa pet voltando para o ciclo da reciclagem, se transformando em novos produtos, a gente deixa de extrair mais petróleo”, ensina.
Uma tonelada de papel sendo reciclada, sendo transformada em novos papéis para serem novamente utilizados, gera uma economia de mais de vinte e dois árvores que poderiam estar sendo cortados e transformados em papel.
“O que a gente tem que entender o consumo. Tudo aquilo que a gente consome hoje vem da natureza. E aí a gente pensa, por algum momento, que tudo que a natureza destinava para a gente era infinito. Principalmente para a gente, que é brasileiro, para a gente que é paraense, especificamente, quando a gente vai ali pelas estradas, ali para Salinas, a gente vê muita terra, a gente vê muito mato, e a gente acha que isso nunca vai acabar. Mas tem locais que, para quem viaja no interior do estado, que antes que você passava você só via floresta. Hoje você não tem mais floresta, só tem pasto”, compartilhou.
E qual impacto disso tudo no meio ambiente? O clima é um dos mais impactados pela má gestão dos resíduos sólidos. “Com a COP-30, o mundo vai sentir na pele o calor excessivo que tem feito em Belém. Isso é resultado dessa falta de cuidado com o meio ambiente e nós, catadores, sofremos muito com esse calor”, disse.
Cooperativismo
Quem também participou do painel foi o administrador e Superintendente no Sistema OCB-SESCOOP/PA, Júnior Serra. Ele já começou fazendo uma reflexão sobre os catadores de lixo.
Para ele, essas pessoas são, por muitas das vezes, invisíveis para a sociedade. Muitos não estudaram muito, mas eles tem muito mais consciência ambiental do que muitos mestres e doutores.
Júnior destacou a importância das cooperativas para as famílias que atuam em diversos setores, incluindo as que tratam da gestão de resíduos sólidos. “É olhar pra esse empreendimento com o olhar nosso, da administração, que aquilo é um negócio. Eles não estão cuidando de ninguém, eles estão cuidando de um negócio. E a gente tem uma máxima aqui no Pará, no sistema cooperativista, que tudo que é bom que acontece no país vem lá do sul do país, e a gente conseguiu inverter essa dinâmica,”, enfatizou o administrador.
Para finalizar, ele reforçou: “Eu peço, com a ajuda de vocês, para que a gente possa, cada vez mais, discutir esse tema na nossa profissão. Precisamos de fato falar com os gestores, nos atendermos, olharmos, entendermos adiante e avançarmos, porque parte dessa mudança passa por nós, passa por pessoas que têm o poder de decisão, que têm o poder de discurso. De maneira séria e qualificada para que empreendimentos como esse possam cada vez mais avançar no nosso país”, encerrou.
Mediando o debate, estava o presidente do CRA-RN, Adm. Flávio Cavalcanti, que complementou a discussão, trazendo uma perspectiva administrativa sobre como a economia circular pode ser integrada à gestão pública e privada. O público presente teve a oportunidade de absorver valiosos insights sobre como integrar essa abordagem em seus próprios ambientes de trabalho e contribuir ativamente para a construção de um futuro mais verde e responsável.
Ana Graciele Gonçalves
Assessoria de Comunicação CFA
