Administradora com formação e experiência multidisciplinar, Lilian Schiavo é referência no empreendedorismo feminino e em relações internacionais
Por Leon Santos
Administradora e arquiteta, Lilian Schiavo é uma profissional multidisciplinar e versátil. Dirigente de instituições brasileiras e internacionais, ela preside a ‘Organização Brasileira de Mulheres Empresárias (OBME)’, a ‘Convergência Empresarial de Mulheres Brasileiras no Mercosul (CEMB)’ e a ‘Brasil Global Networking G-100’.
Também é conselheira do ‘Instituto Brasileiro de Relações Empresariais Internacionais (Ibrei)’; do ‘Fórum Brasil de Gestão Ambiental (FBGA)’ e é sócia proprietária da ‘Escola Nacional de Formação de Relações Internacionais (Enfri)’. Com experiência na mediação de negócios entre organizações internacionais, ela é referência no assunto, sobretudo na inserção feminina em ambientes de negócio.
Nesta edição da RBA, Lilian fala sobre as áreas e organizações em que atua, bem como a respeito de sua trajetória profissional. Ela conta suas impressões sobre o mercado, pontos fortes dos empresários brasileiros no exterior e sobre a liderança feminina e equidade no mercado.
Lilian, você é administradora, arquiteta e tem pós-graduação em engenharia de segurança e medicina do trabalho. Como essas formações profissionais estão relacionadas em sua vida, o que as unem?
Nasci numa família de médicos e fui criada para seguir a profissão dos meus pais. Um dia ganhei um brinquedo diferente, um conjunto de bloquinhos de madeira pintados — que na minha cabeça se transformavam em lindas casas e cidades. Foi assim que sem perceber iniciei uma paixão silenciosa pela arquitetura e mais tarde pela administração. Meus pais fundaram um hospital e, como a maioria dos médicos, tinha pouca afinidade com legislação, contabilidade e planejamento. Em determinada época, soubemos que uma Faculdade de Administração Hospitalar chegara ao Brasil, e a essa altura eu já tinha definido que o tema de minha monografia na graduação seria sobre Arquitetura Hospitalar e que iria ajudar meus pais nas empresas. Sem dúvida, administração é um curso que deveria ser obrigatório para todas as profissões. Abre um leque de conhecimentos, provoca reflexões, instiga e te capacita a encontrar soluções. Depois, curiosa por natureza, decidi fazer uma pós em ‘Engenharia de Segurança’ para unir os conhecimentos sobre arquitetura, saúde e trabalho.
Você atua no setor de relacionamento institucional em âmbito internacional. Explique o que é esse setor, quais são as principais atividades desse segmento, e quais os benefícios ele traz às empresas?
O setor de relações internacionais é vital para o desenvolvimento de empresas. Durante a pandemia, ficou evidente a importância da abertura de novos mercados como resposta à globalização — gerada pela tecnologia e que possibilitou a comunicação entre os países. Tenho o privilégio de participar de diversas organizações mundiais, cada uma com perfis diferentes — um core particular que define sua atuação. Ao ingressar em uma delas, tive acesso a um mundo novo, com um networking impressionante e resultados palpáveis: você expande seu espaço, elimina fronteiras e tem um crescimento exponencial, sem limites. Queremos aumentar a representatividade feminina internacional, pois percebemos que apenas 23% dos diplomatas do Itamaraty são mulheres, desse modo, promovemos um curso de ‘Paradiplomacia e Internacionalização de Cidades’ com valores especiais para as mulheres. Costumo dizer que construímos pontes entre mulheres, empresas, organizações e países, e derrubamos muros para descobrir novos caminhos e oportunidades de negócios, além de criar laços comerciais e de amizade, incentivamos as empresas a internacionalizar seus negócios.
Ainda sobre relações institucionais, como o empresariado brasileiro se sai nesse quesito? Quais são os diferenciais dos gestores brasileiros (pontos fortes) ao fazer negócios e quais as principais dificuldades que você já observou?
O Brasil é um país com dimensões continentais, pluralidade cultural e uma vasta gama de produtos de exportação que vai muito além das commodities. É necessário destacar que além do agronegócio, o Brasil investe também em produtos com valor agregado, como bebidas e alimentos, manufaturados e tecnologia. Nosso ponto forte é a capacidade produtiva, a extensão territorial, a variedade de produtos e serviços. Em termos pessoais, vejo o Brasil ser formado por um povo acolhedor, de realizações e grandes projetos. Temos grandes exemplos em liderança e gestão, somos resilientes e comprometidos. Como obstáculos, temos a burocracia, os impostos, a logística e o desconhecimento da diplomacia internacional em negócios. A profissão de Relações Internacionais ainda é muito nova e pouco estruturada no Brasil, estamos iniciando nosso desenvolvimento, mas com grandes expectativas para um futuro próximo.
Como você enxerga o atual momento socioeconômico do Brasil e como a administração e o relacionamento institucional poderiam contribuir para melhoria da imagem e das relações do Brasil com outros países e entre instituições públicas e privadas?
O mundo como um todo sofreu um grande choque, com muitas perdas, dois anos de insegurança, tristeza e incertezas. Mas o Brasil tem duas grandes vantagens: o encanto pelo empreendedorismo e a diversidade de associações que promovem a troca de experiências internacionais. A partir do surgimento da Agenda 2030 da ONU, vimos uma descentralização das relações internacionais. A diplomacia que antes era praticada apenas em nível nacional, comandada como política de governo, agora ganha novas aplicações, como é o caso da ‘diplomacia corporativa’. Diversas instituições, iniciativas e organizações passaram a praticar relações internacionais de forma autônoma, procurando sua própria inserção no mercado internacional e aproveitando os benefícios oferecidos por este. Cada vez mais, as estruturas presentes em outros países possuem algum vínculo de cooperação ou acordo institucional. Dessa forma, cada segmento e cada setor do Brasil demonstram seu potencial, seu grau de competitividade e capacidade, tanto tecnológica quanto intelectual. Estamos avançando no desenvolvimento de startups e atraímos investimento e um olhar especial do estrangeiro. Vejo os trabalhos público-privados mostrarem resultados exponenciais quando há um comprometimento real de ambas as partes.
Lilian, você é presidente nacional da Organização Brasileira de Mulheres Empresárias. Conte-nos o que é essa instituição, seu objetivo e tipo de trabalho que desenvolvem.
A Organização Brasileira de Mulheres Empresárias (OBME) é afiliada à FCEM, e está presente em 120 países, nos cinco continentes. Foi fundada pela francesa Yvonne Foinant, em 1945, durante a 2ª Guerra Mundial. Somos uma organização pioneira em conectar empresárias no mundo todo com sororidade (união de mulheres) e solidariedade, e também temos status consultivo na ONU, UE e OIT. A OBME é formada por empresárias, pessoas jurídicas, empreendedoras, profissionais liberais e executivas. Incentivamos as jovens a se tornarem donas do próprio negócio e a internacionalização de suas empresas. Somos uma rede com cinco milhões de empresas espalhadas pelo mundo. Na pandemia, criamos um grupo para que as mulheres comprassem produtos e serviços de outras mulheres, apoiando as micros e pequenas empresas. Realizamos eventos nacionais e internacionais, reunindo empresárias em encontros e rodadas de negócios, cada vez num país diferente, proporcionando um intercâmbio cultural.
No geral, como você avalia a atuação feminina no âmbito empresarial? O que é preciso mudar ou melhorar?
Segundo a ONU, as empresas com líderes femininas apresentam melhores resultados financeiros em até 20%, prova de que a igualdade de gênero e a diversidade são um bom negócio. Um estudo realizado pela McKinsey em 2021 — denominada “O Futuro das mulheres no trabalho”, com base em 700 empresas de capital aberto, realizado em seis países da América Latina — indicou que poderíamos alcançar 12 trilhões de dólares adicionais à economia global para 2025 se avançarmos as ações de inclusão e diversidade.
É claro que o empoderamento feminino está diretamente ligado ao empoderamento financeiro das mulheres, e que a independência econômica traz liberdade e protagonismo. As mulheres possuem algumas das principais qualidades exigidas dos novos líderes empresariais: perfil inovador, adaptabilidade às mudanças, capacidade de assumir riscos e compaixão.
As verdadeiras líderes aprenderam que não necessitamos competir entre nós. Ao contrário, percebo cada vez mais movimentos e redes de mulheres que se unem para diminuir a triste perspectiva de mais de 100 anos para que alcancemos a igualdade de gênero. Sou uma otimista nata, que conjuga o verbo esperançar.
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Por Leon Santos – Assessoria de Comunicação CFA