Em um café da manhã com jornalistas, o presidente da República, Jair Bolsonaro, sem saber que o áudio da coletiva estava aberto para transmissão ao vivo, disse que “dos governadores ‘de Paraíba’, o pior é do Maranhão”. Em poucos minutos, a declaração repercutiu negativamente por todo o país.
Os governadores dos noves estados da região Nordeste divulgaram um comunicado repudiando a fala presidencial. Posteriormente, Bolsonaro veio a público explicar que sua fala foi direcionada a dois governadores: do Maranhão, Flávio Dino; e ao da Paraíba, João Azevêdo.
Intencional ou não, o fato é que a declaração ofendeu não só os chefes do Executivo daqueles estados, mas também a população nordestina, estimada atualmente em 54 milhões, a segunda maior do país. Razões para estarem chateados não faltam.
O termo ‘de paraíba’ é usado culturalmente – e erroneamente – para se referir a pessoas pobres e com baixa escolaridade. Infelizmente, o Nordeste carrega em sua história um dos piores índices de desenvolvimento econômico e social do país. Parte considerável deste atraso é, sem dúvida, fruto da ingerência política dos nossos representantes.
A seca, por sua vez, é outra cruz na vida do nordestino e foi tema até de muitas músicas. Em “A Súplica cearense”, por exemplo, o nordestino pede, em oração, “pra chover, mas chover de mansinho, pra ver se nascia uma planta, uma planta no chão”. Triste realidade e, quem diz que não há fome no Brasil, não conhece o interior do Nordeste. Como disse o mestre Luiz Gonzaga em uma das suas mais célebres canções, Asa Branca, “por falta d’água, perdi meu gado, morreu de sede meu alazão”.
Sem comida, sem água, sem educação de qualidade e oportunidade de trabalho, nossos irmãos migram para outras regiões desenvolvidas em busca de dignidade. Nas grandes cidades, ajudam o país a se desenvolver. Na indústria, agricultura, construção, comércio ou serviços: eles são a mão de obra, a alavanca que ajuda o país a crescer.
Isso sem mencionar a área científica e a sua contribuição intelectual para o Brasil, quiçá o mundo: o baiano Ruy Barbosa; o educador Anísio Teixeira; o geógrafo Milton Santos; o poeta Castro Alves; o cineasta Glauber Rocha; o dramaturgo e romancista Ariano Suassuna; os incontáveis escritores como Gilberto Freyre, Jorge Amado, José Lins do Rego, José de Alencar, Graciliano Ramos, entre tantos outros.
Chamá-los ‘de paraíba’ é um equívoco, um erro sem tamanho, uma injustiça. É termo pejorativo, preconceituoso e xenofóbico, ofensivo demais até para quem não é natural daquela região. Por isso, o Conselho Federal de Administração (CFA) solidariza-se com o Nordeste nesse momento triste para a história do país. Repudiamos qualquer forma de agressão e discriminação e defendemos o respeito à diversidade.
Ao Nordeste, o nosso muito obrigado por nos presentear com as melhores paisagens naturais do Brasil, com uma culinária rica em cores e sabores, com seu forró, frevo e seu axé e tantas outras tradições culturais que encantam o Brasil e o mundo e, claro, e com uma população ‘arretada’, valente e merecedora de toda a nossa admiração e respeito. Aos desavisados de ‘alma sebosa’, fica a reflexão.
Adm. Mauro Kreuz
Presidente do Conselho Federal de Administração