O terceiro painel do XIX Fórum Internacional de Administração (FIA) aprofundou uma das discussões mais sensíveis e urgentes da contemporaneidade: como a tecnologia, os dados e os avanços digitais influenciam — e transformam — a dimensão humana. Intitulado “Transformação humana em tempo de código: O futuro é relação”, o debate reuniu especialistas de diferentes áreas do conhecimento, que trouxeram olhares complementares sobre os desafios e oportunidades dessa nova era. A mediação foi conduzida pela conselheira regional do CRA-DF, administradora Andrea Antinoro.
Dimensão humana e sofrimento psíquico na sociedade digital
A psicóloga Raquel Paiva, pós-doutora em Psicologia e especialista em Psicologia Fenomenológico-Existencial, abriu o diálogo destacando que a digitalização crescente da vida cotidiana não pode se sobrepor à complexidade da experiência humana. Com 23 anos de atuação clínica em casos de sofrimento psíquico grave, Raquel trouxe ao público reflexões sobre como as novas formas de interação mediadas por tecnologia afetam a saúde mental, as percepções de mundo e os processos subjetivos.
Autora do livro “Vivências Espirituais e Crises do Tipo Psicóticas”, ela ressaltou que é preciso compreender profundamente os fenômenos humanos para que a tecnologia avance de forma ética e responsável. “A transformação digital só é completa quando inclui a transformação humana”, afirmou.
Na palestra, ela levantou muitos questionamentos: O que acontece com a alma humana na era dos algoritmos? Como saúde e espiritualidade se articulam em um mundo mediado por IA? Qual o futuro das relações?
“Estamos vivem numa sociedade tecnológica, mas extremamente fragmentada. As relações fragilizadas, pessoas doentes e uma sociedade cada vez mais líquida”, disse.
Gestão pública, relações institucionais e impacto social
Diretamente do Peru, Mauro Trigozo contribuiu com uma análise sobre o papel da Administração na construção de relações sociais mais eficientes, inclusivas e sustentáveis. Bacharel em Administração, mestre em Educação e detentor de Doutorado Honoris Causa, Mauro acumula experiência em gestão municipal, docência universitária e liderança institucional.
Em sua fala, reforçou que o desenvolvimento tecnológico precisa estar alinhado ao fortalecimento das políticas públicas e das relações entre Estado, organizações e comunidade. Para ele, a humanização das instituições é tão essencial quanto a modernização de processos. “Tecnologia sem relação não gera transformação; apenas automatiza o que já existe”, destacou.
Tecnologia, dados e o novo paradigma das relações
Representando os Estados Unidos, o professor e pesquisador Marcos Crivelaro, PhD em Finanças e Inovação Tecnológica, trouxe uma visão baseada em evidências e tendências globais. Especialista em ciência de dados, blockchain, ESG e transformação digital, Crivelaro apontou que o futuro das organizações depende diretamente da capacidade de integrar inteligência artificial, análise preditiva e cultura relacional.
Docente da MUST University (EUA), da FIAP e do Instituto Federal de São Paulo, ele enfatizou que os avanços tecnológicos criam novas oportunidades, mas também novos desafios éticos. “A tecnologia aproxima, conecta, antecipa necessidades. Mas, para transformar, precisa de propósito e responsabilidade”, afirmou, mas reforçou que “se o ser humano não estiver integrado ao sistema, o sistema colapsa”.
O futuro é relação
O painel deixou clara uma síntese: em um mundo cada vez mais orientado por códigos, algoritmos e dados, o elemento humano é — e continuará sendo — o eixo central da inovação. A interação entre psicologia, gestão pública e tecnologia mostrou que o verdadeiro futuro não será apenas digital, mas profundamente relacional.
Com riqueza de perspectivas e reflexões, o PAINEL 3 reforçou o compromisso do Fórum em promover debates que valorizam a Administração como ciência capaz de unir pessoas, processos e propósitos em favor de um futuro mais humano, inovador e sustentável.
Ana Graciele Gonçalves
Assessoria de Comunicação CFA
