Diante da Revolução 4.0 que já bate às portas, seria ingenuidade pensar que os sistemas produtivos se adaptarão naturalmente ao mundo digital. Não são os processos tecnológicos que determinarão o futuro das organizações, mas a maneira como serão interpretados e utilizados. As mais resistentes perderão espaço, fecharão ou serão incorporadas pelas as que se anteciparam, não importa o nível de tecnologia embarcada.
Para falar sobre a reinvenção necessária da Administração, a última palestra do dia trouxe o diretor de Formação Profissional do CFA, Mauro Kreuz. O diálogo foi mediado pelo secretário de Educação do Rio de Janeiro, Wagner Victer.
Kreuz começou fazendo uma menção ao título de sua apresentação “A Reinvenção da Administração: navegando no caos”. Ele afirmou que o caos é bom e o problema não está em aprender, mas em desaprender. O administrador falou dos desafios de formar quadros e rever conceitos. Afirmou que estamos vivendo a era paradoxal; um caos paradoxal brasileiro, discutindo ambientes de mudança como Economia 4.0 enquanto temos uma educação 1.0 que não forma quadros profissionais em Administração para atender às mudanças da Revolução 4.0. “Como é que nós queremos nos apropriar dessas oportunidades, se não estamos cuidando adequadamente da formação profissional? Isso não pode dar certo.”
Um dos destaques, apontados pelo diretor como desafios da reinvenção da Administração, é a atual formação que predomina na academia. “A gente vê que, de cada 10 demandas, 7 são no âmbito da Administração. O problema não é de oportunidades, é de capacitação. É por isso que a gente acaba tendo desvantagens no mercado de trabalho por deficiências capacitativas. Não é possível reinventar a Administração sem reinventar o ensino da profissão no país, porque, desse jeito, ele não atende nem as demandas atuais, quanto menos as do futuro”, afirmou.
Ao responder para onde vai a Administração, tema do Enbra deste ano, o administrador afirmou que esse futuro será pautado pelas contingências tecnológicas, sociais, sociológicas e econômicas. Segundo o palestrante, não adiantar a preparação pessoal se os contextos macroeconômico e macropolítico não corresponderem. “Nós somos o penúltimo país do mundo em facilidade para empreender. Veja que paradoxo. A taxa de mortalidade das startups brasileiras é de 97%.”
Em ambientes cada vez mais complexos, globais e multipolares, exige-se cada vez mais uma administração de forma profissional. Kreuz fez uma análise do momento de transição entre uma economia centrada nos excessos para uma economia centrada nos limites – a colaborativa –, o que culmina em novos modelos de consumo, de distribuição e de produção ancorados em novas tecnologias. “É isso que vai pautar a reinvenção da Administração pública e privada, é essa a nova contingência da qual a Administração tem que se apropriar”, disse.
Para isso, ele aponta uma profunda revisão das competências conceituais, metodológicas e técnicas, além da necessidade do profissional atual apresentar uma visão holística, sistêmica, dialética, crítica e integrada de organização e mundo. “A academia está sendo alertada há muito tempo, mas continua preparando gente numa lógica atrasada 1.0 para um mercado 4.0”, finalizou.
Assessoria de Comunicação CFA