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RBA 129 | Mulheres de negócios

Empreendedorismo feminino ganha força no país: 9,3 milhões de mulheres estão à frente de uma empresa

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É possível imaginar que, no Brasil, as mulheres só tiveram acesso à educação em 1827 e que o direito de cursar uma faculdade foi conquistado 50 anos depois? Direitos políticos, então, só conquistaram na quarta década do século XX. Mesmo assim, com muita luta e engajamento, elas passaram a ser protagonistas da própria história. Hoje, acumulam conquistas em várias áreas, e se destacam no empreendedorismo.

Os números provam isso: pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016, coordenada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), revelou que a taxa de empreendedorismo feminino em empresas com até três anos e meio de existência ficou em 15,4%; entre os homens, o percentual ficou em 12,6%.

De acordo com o relatório “Empreendedorismo Feminino no Brasil”, divulgado pelo Sebrae em março deste ano, 9,3 milhões de mulheres estão à frente de empresas no Brasil. Na média nacional, elas respondem por 34% do total de donos de negócio.

A administradora Janine Brito é uma das mulheres que fazem parte dessa estatística. CEO da Ferragens Pinheiro, ela assumiu a missão de dar sequência ao legado da empresa fundada por seu pai, Getúlio Pinheiro de Brito, em 1960. Para ela, esse foi o maior desafio da sua carreira. “Eu me preparei a vida inteira para poder assumir esse papel. Nunca quis parar, sempre me espelhei no otimismo e no dom empreendedor que me foi ensinado desde a infância”, diz a empresária.

Com Janine na liderança do negócio da família, o faturamento da Ferragens Pinheiro teve um expressivo aumento: a empresa triplicou de tamanho e seu poder de mercado cresceu. Ela aprendeu o básico com o próprio pai, mas credita o sucesso da sua gestão à busca incansável por capacitação. “Nunca me afastei da informação e do conhecimento. Fiz inúmeros cursos na área administrativa e consigo manter um networking que faz diferença na gestão de qualquer negócio”, ensina Janine.

 

Capacitação constante

O conhecimento buscado por Janine é uma das razões do avanço feminino no mundo dos negócios. Segundo a assessora da Diretoria Técnica do Sebrae-DF, Cassiana Abritta, “as mulheres se capacitam mais e procuram mais formação para poder atuar no mercado”.

Para ela, a capacitação é essencial para começar e manter um negócio. “A mulher tem que entender do assunto e conhecer as suas habilidades pessoais para identificar gaps, saber no que precisa se aperfeiçoar e, assim, ter maiores chances de ter sucesso no empreendedorismo”, avalia a assessora.

 

Barreiras a vencer

Apesar das conquistas, as mulheres ainda encontram muitos desafios na hora de empreender. O relatório do Sebrae mostrou que a proporção de negócios abertos por necessidade é maior no grupo das mulheres. Essa realidade é a porta de entrada para um problema recorrente na maioria das empresas: a falta de planejamento.

De acordo com levantamento da Rede Mulher Empreendedora (RME), feito em 2018, 86% das empreendedoras não se planejam antes de iniciar um negócio. A administradora e diretora de Formação Profissional do Conselho Federal de Administração, Cláudia de Salles Stadtlober, explica que um negócio que começa “no susto” pode prosperar, mas é o caminho mais longo e difícil. O ideal, segundo ela, é “buscar o apoio para o desenvolvimento do plano de negócio, com todas as suas etapas”.

Outra barreira que muitas mulheres enfrentam é a questão econômica. Para se ter ideia, o acesso a crédito e linhas de financiamento é de R$ 13 mil a menos que a média liberada para os homens. Além disso, elas pagam taxas de juros maiores: 3,5%. Mesmo com pouco dinheiro, a inadimplência no grupo feminino é de 3,7%, enquanto entre eles esse índice é de 4,2%.

Esse perfil de boa pagadora se deve, segundo Cassiana, ao estilo conservador que muitas mulheres adotam na hora de recorrer a um financiamento, pois “elas buscam ter mais segurança para poder investir no próprio negócio”.

 

Mais perto da família

Segundo dados da Rede Mulher Empreendedora (RME), a maternidade foi o grande empurrão para 75% das mulheres que decidiram abrir o próprio negócio no Brasil. A decisão de empreender geralmente vem acompanhada da busca por renda complementar, trabalho mais flexível, satisfatório ou com melhor retorno financeiro.

Em outros casos, o negócio nasce por conta do desemprego. Uma pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou que 48% das mulheres são demitidas após a licença-maternidade. Sem conseguir uma recolocação no mercado de trabalho, essas mulheres acabam encontrando no empreendedorismo a chance para superar a crise.

Por opção ou necessidade, ter o próprio negócio permite que elas tenham mais tempo para a família, em especial os filhos. Além disso, a independência financeira da mulher provoca mudanças significativas e pode ajudar a reduzir problemas, como a violência doméstica. “Quando a mulher tem o seu rendimento, ela pensa na família e tem maior poder de decisão sobre sua própria vida”, explica Cassiana.

 

Destaque made in Brazil

O empreendedorismo entrou na vida de Fernanda Morini por acaso. Em 2007, ela foi cursar Business Administrationem Miami, Estados Unidos, com uma bolsa de estudos parcial. Para se manter no país, a brasileira precisou buscar formas alternativas para ganhar dinheiro, uma vez que o visto que ela tinha na época não a permitia exercer um trabalho formal.

Em certa ocasião, Fernanda conheceu o estilista de biquínis Antônio Nazar, conhecido como Binha. Um dia, ele lhe deu uma sacola com roupas de banho para vender. Nascia, naquele momento, uma empreendedora. Fernanda percebeu que o produto fazia sucesso entre os gringos e decidiu comercializá-los nas praias de Miami.

O encontro com Binha, segundo ela, foi “obra do destino”. “Eu vi uma oportunidade que abriu várias portas. Foi uma forma que encontrei para pagar os estudos e me manter financeiramente nos Estados Unidos”, relembra a empresária.

As barreiras ligadas ao idioma, a distância da família e a falta de apoio financeiro foram vencidas com a venda dos biquínis na praia – que ela pegava em consignação. Foi assim que Fernanda juntou o capital inicial para investir na própria marca e, lá mesmo nos Estados Unidos, formalizou a Nanda Bikinis.

Em 2010, a empresária trouxe o negócio para o Brasil. Hoje, a empresa exporta roupas de banho para o Japão, Estados Unidos e Canadá. Além disso, Fernanda mantém um ateliê onde faz o atendimento especializado de clientes interessados em peças personalizadas e exclusivas. “O meu negócio é gerado por amor. Eu realmente amo a Nanda Bikinis. As pessoas sentem e vibram com a história, com as peças. Tudo é energia”, conclui.

 

Referência para outras mulheres

Histórias como a da Fernanda inspiram e estimulam o empreendedorismo feminino. Em alguns momentos, Janine Brito chora ao lembrar-se dos dias em que, ainda criança, sonhava em chegar onde chegou. “O empreendedorismo não é feito para pessoas sem foco e disposição ao sacrifício. Não é fácil sair da zona de conforto e apostar no desconhecido. É preciso garra, determinação e coragem para se chegar a algum lugar”, conta.

Para ela, acreditar em si mesma e nos próprios talentos é algo sedutor. “Não é possível ser um vencedor se você não conseguir se ver como um vencedor. Vá com força, se jogue de corpo e alma; lembre-se que haverá dias de preguiça, desânimo e insegurança, mas nada disso pode vencer você”, aconselha a empresária.

 

Dicas de quem entende

A administradora Claudia Stadtlober lista cinco conselhos poderosos para a mulher que quer empreender.

Confie no seu potencial – a mulher é capaz e precisa acreditar que tem potencial para fazer mais e melhor, e oferecer algo que possa realmente surpreender os clientes.

Acredite em si – aqui entra o empoderamento feminino. A mulher precisa entender que, sim, ela pode desenvolver um negócio, fazer a gestão dele e ter sucesso.

Faça o que gosta – escolha um ramo de negócio que realmente lhe encante, que vai gerar prazer e satisfação. É preciso entender que essa entrega e dedicação tem valor para ela – a dona do negócio – e para outras pessoas.

Planeje seu negócio – o planejamento é, sem dúvida, o segredo do sucesso de um empreendimento. Um plano de negócios bem feito, que contemple a estratégia, o marketing, o plano operacional, o plano financeiro, por exemplo, dará a sustentação necessária para saber se o negócio é viável e se dará certo.

Escolha bem seus parceiros – são os colegas e sócios que estarão ao lado dessa mulher. É preciso conhecê-los para saber em que eles poderão ajudar no desenvolvimento desse negócio.