Gilles Lipovestky estará no Brasil para participar do Fórum CFA de Gestão Pública. Otimista, ele acredita que há outras formas de engajamento democrático e aponta o perfil ideal do político que a nação precisa
Faltam poucos meses para as eleições presidenciais no Brasil. A corrida ao Palácio do Planalto já conta com pelo menos 23 pré-candidatos. Até o ex-presidente Lula, condenado a 12 anos de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, não descarta a possibilidade de apresentar a sua candidatura caso não tenha seu registro negado pela Justiça Eleitoral em razão da Lei da Ficha Limpa.
O sufrágio também vai eleger deputados federais e distritais, senadores e governadores. Mas, ao contrário dos anos anteriores, o brasileiro não está muito empolgado com as eleições e tem demonstrado certo desinteresse pelo assunto. De acordo com estudo do Fórum Econômico Mundial, em parceria com a Fundação Dom Cabral, divulgado no final de 2017, dos 137 povos, o brasileiro é o que menos confia em seus políticos.
Essa descrença foi motiva, sobretudo, pelos constantes escândalos políticos e as investigações da operação Lava-Jato. O estudo mostra, ainda, que os problemas éticos não estão só no setor público, mas no ranking que afere a ética corporativa, as empresas brasileiras ficaram em 126º lugar.
Qual o papel do cidadão para mudar essa realidade?
Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 60% da população brasileira não se mostra interessada na corrida eleitoral deste ano. Entretanto, o cidadão tem papel relevante para mudar o atual cenário político do país. Pensando nisso, o Conselho Federal de Administração (CFA) realizará, de 6 a 8 de junho, o Fórum CFA de Gestão Pública. O evento reunirá gestores públicos de todas as esferas – federal, estadual e municipal – que estão ocupando cargos estratégicos, gerenciais ou operacionais, profissionais de Administração, profissionais de outras áreas e estudantes para discutir temas ligados à gestão pública não só para superar as contingências do presente, mas também para construir uma plataforma para o futuro.
Um dos nomes mais aguardados do Fórum é o do filósofo francês Gilles Lipovetsky. Teórico da hipermodernidade, ele é autor de vários livros. Uma das suas obras mais famosas é “A era do vazio”, onde ele faz uma análise profunda da sociedade pós-moderna, sobretudo marcada pelo desinvestimento público. Em entrevista exclusiva para o CFA, ele explica que os cidadãos estão mais voláteis e indecisos, não sabem em quem vão votar. Para o especialista, esse “é um dos problemas do desmoronamento da ideologia política”.
Lipovetsky afirma que os problemas no Brasil não são exclusividade do país, mas que é nítida a desconfiança dos cidadãos. “Podemos ver um momento novo na história da democracia que consiste na erosão da confiança dos cidadãos para com os líderes políticos, os partidos e até uma série de instituições democráticas. É o que chamamos de crise da desconfiança nas democracias”, enfatizou o palestrante do Fogesp.
Com relação a crise política que o país vive, ele defende que há, sim, um lado positivo. “Acredito que o Brasil vai gerar uma nova relação com a política, mas isso vai tomar tempo, certamente. Será preciso que as instituições se fortaleçam, que o direito seja exercido, que os hábitos políticos mudem por intermédio das leis, mas isso vai tomar muito tempo”, disse, reforçando que, no Brasil, ao contrário de outras nações, a democracia perdura, a democracia perdura, não há nenhum banho de sangue, os conflitos continuam se travando no ambiente de pacificação democrática e não por meio das armas e da violência.
Novas formas de participação
A falta de interesse pela corrida eleitoral não significa que a população está alheia a tudo que acontece no país. Olhando de fora, pode parecer que o engajamento do cidadão perdeu força, mas Lipovetsky defende a ideia de o que vem desaparecendo é o “militantismo corpo e alma, momento no qual o compromisso político era uma forma de religião”. “Muito embora haja formas de desparticipação política, não quer dizer que não haja outras formas de engajamento político”, avalia o filósofo.
As redes sociais como o Facebook são bastante usadas para envolver as pessoas e que têm gerado consequências absolutamente notáveis. “Há outras formas de participação. É também uma forma de riqueza e de vitalidade da vida democrática que não funciona mais unicamente com a participação eleitoral e sim também com outras formas de participação pré-eleitorais e pós-eleitorais”, justifica.
Político ideal
Em ano de eleições no Brasil, o francês aponta o que, para ele, é o político ideal. Além de um comportamento ilibado, voltado para o bem comum, o futuro chefe do executivo precisa, de acordo com ele, “colocar o país nos eixos para enfrentar os desafios do futuro”.
“A boa conduta de um homem político é a busca pelo interesse geral. Um líder político responsável não pode ser o representante de categorias; ele precisa ver o que é necessário para o país. Logo, ele precisa saber, se for um grande líder, um grande chefe de Estado, desagradar e não apenas agradar. Deve ter a coragem de desagradar tomando decisões difíceis, mas necessárias para colocar o país no eixo e enfrentar os desafios da globalização”, orienta Gilles Lipovetsky.
Fórum CFA de Gestão Pública
No Fogesp, Lipovetsky apresentará a palestra “Os novos papéis na relação entre sociedade e Estado”. Na oportunidade, ele vai falar mais sobre o papel do cidadão na construção de uma nova realidade e como o Estado, por meio da decisão política, poderá realizar as mudanças que a sociedade espera.
Interessados em participar do Fórum CFA de Gestão Pública podem se inscrever no site www.fogesp.org.br. O primeiro lote de inscrições com valores especiais estão esgotados. Os novos valores são: R$ 240,00 para profissionais de Administração registrados nos CRAs; R$ 340,00 para servidores públicos; R$ 440,00 para outros profissionais; e R$ 140,00 para estudantes. Valores referentes a meia entrada.
Serviço
Fórum CFA de Gestão Pública
Quando: De 6 a 8 de junho de 2018
Local: Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília-DF
Realização: Conselho Federal de Administração
Mais informações no site www.fogesp.org.br
Assessoria de Comunicação CFA