De acordo com levantamento recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida no Brasil subiu para 76,8 anos em 2020. Em relação a 2019, houve um aumento de dois meses e alguns dias. O levantamento revelou que mulheres vivem mais do que homens: enquanto eles chegam a viver, em média, 73,3 anos, o público feminino pode ir até 80,3 anos.
O estudo não levou em conta os efeitos da pandemia, mas o fato é que a população mundial está vivendo mais. A própria Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) apontou que, em 2050, o número de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos vai mais do que dobrar.
Com as pessoas vivendo mais, tendo acesso a um envelhecimento saudável, com as novas mudanças nas regras para aposentadoria no Brasil e com a participação cada vez maior dos idosos no sustento da casa, boa parte da turma da terceira idade está ativa no mercado de trabalho. Outros, no entanto, tentam uma recolocação e precisam superar muitas barreiras.
Empregados ou não, o fato é que o mercado de trabalho ainda é hostil para os profissionais acima dos 50 anos de idade. Os efeitos do chamado etarismo ou idadismo – prática discriminatória com base na idade – são alarmantes e colocam em risco o futuro das organizações.
Ora, o Brasil está envelhecendo. Além disso, as famílias estão reduzindo o número de filhos, o que significa que, futuramente, o país terá poucos profissionais em idade ativa no mercado. Sem contar que, por aqui, 35,9% dos adultos jovens não trabalham nem estudam, também chamada de geração “nem-nem”.
Com este cenário à vista, faz sentido desprezar mão de obra madura, qualificada e experiente? Certamente não. Por outro lado, é necessário que os gestores pensem em formas para promover a diversidade etária nas organizações. Não apenas isso, mas é importante, também, que o público acima dos 50 anos seja estimulado a buscar formações constantes.
Sim, é preciso voltar a estudar e aprender a aprender. Quem é da old school foi formado para o trabalho repetitivo, mecânico e inflexível. Acontece que o mundo mudou, está mais tecnológico, virtual, dinâmico e diverso. Provavelmente, boa parte dos conflitos geracionais na organizações acontecem por conta do choque entre essas realidades.
No filme “Um senhor estagiário”, por exemplo, Robert de Niro é Ben, um executivo aposentado e viúvo que é selecionado para um programa de estágio voltado para a terceira idade. Ele vai trabalhar em uma start-up de vendas on-line criada pela jovem Jules que, na trama, é interpretada pela atriz Anne Hathaway. No longa, eles vivem situações típicas da Geração Baby Boomers e da Gerações Y e Z.
No começo, os jovens profissionais estranham o colega sênior no ambiente de trabalho e oferecem até certa resistência com as investidas de Ben. Avesso à tecnologia, principalmente a que envolve as redes sociais, ele se esforça para conhecer e entender a linguagem virtual da nova geração sem, contudo, abandonar a classe e charme da sua geração.
Com muito bom humor e alguns conflitos, aos poucos a equipe vai se entendendo e uma bela amizade entre as gerações é formada. A maturidade e a experiência de Ben foi fundamental para o sucesso da startup de Jules e a equipe jovem da empresa também contribuiu bastante para que o senhor estagiário obtivesse sucesso na sua nova empreitada profissional.
O filme é apenas um recorte do que vem acontecendo nas empresas mais engajadas em promover a diversidade geracional. Para aquelas organizações que ainda insistem em excluir, isolar ou a forçar a saída compulsórias da turma acima dos 50 anos, fica a dica para uma mudança de postura. A experiência dessa “galera” pode sim ser o diferencial competitivo que o seu negócio tanto busca.
Adm. Mauro Kreuz
Presidente do Conselho Federal de Administração