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Entrevista Especial RBA 149 – Jorge Avancini

Do futebol ao atual cenário econômico, saiba o que pensa um dos administradores brasileiros com maior destaque na área de gestão esportiva 

Por Leon Santos

O entrevistado da RBA 149, Jorge Avancini, tem bagagem profissional de peso, com atuação em segmentos como merchandising, vendas e distribuição e ativação de produtos. Mas foi na área de Gestão Esportiva que ele se tornou conhecido nacionalmente, por ter trabalhado como diretor em clubes como Internacional (RS) e Bahia, ambos de futebol. 

Entre suas realizações ganha destaque a direção do projeto ‘Cem anos, 100 mil sócios’ (no Internacional, de Porto Alegre), responsável por conectar milhares de torcedores colorados a seu time de coração. Como diretor de mercado do Bahia, ele foi responsável pelas áreas de licenciamento, franquias, patrocínios e publicidade. 

Avancini trabalha atualmente como consultor de marketing, em sua própria empresa, e é presidente do Sindicato dos Administradores do Rio Grande do Sul. Na entrevista a seguir, ele fala das áreas em que atuou, com destaque para a área esportiva e também sobre mercado, formação e a situação econômica do país. 

Jorge, como você avalia o cenário mercadológico e financeiro dos clubes brasileiros de futebol, em geral? O que falta para as agremiações esportivas nacionais terem a mesma projeção, visibilidade e resultados de clubes como ‘Real Madri’, ‘Bayern de Munique’ e Liverpool?

O cenário financeiro atual para a maioria dos clubes brasileiros não é favorável. Não importa o tamanho ou a divisão que estejam participando. Todos passam por sérios apertos financeiros, gastando mais do que arrecadam e sempre tentando correr atrás da máquina — na busca de recursos e investimentos em contratações, o que gera mais dívidas. Gestão, profissionalização e planejamento de médio e longo prazo são alguns dos quesitos que faltam. A maioria dos clubes são instituições associativas, não tem donos, e suas gestões são de curto prazo. A cada dois ou três anos, os dirigentes podem mudar tudo, em função das eleições internas dos clubes. Isso é ruim, pois não há continuidade nos projetos, e o que foi feito na gestão anterior muitas vezes é deixado de lado.

Por que clubes como Palmeiras, Atlético Mineiro e Flamengo têm tido mais êxito que os outros clubes brasileiros, nos últimos anos? O que eles fizeram de certo que os outros times não fizeram?

Tanto o Atlético Mineiro quanto o Palmeiras (SP) conseguiram dirigentes mecenas, que são apaixonados pelo clube e colocam pesados investimentos pessoais nesses clubes. O risco é se esses mecenas deixarem os clubes — como aconteceu com o Palmeiras na época da Parmalat. Caso isso aconteça, como será o futuro? Já o Flamengo passou por um longo processo de reestruturação financeira interna e organização administrativa do clube. Somado a isso tem a grande massa de torcedores e exposição na mídia, em geral, possibilitando grandes arrecadações de receitas.

Saindo da esfera esportiva, o que nós, brasileiros, erramos e acertamos, em geral, ao fazer negócios com outros países nos mais variados setores? 

O idioma pode ser uma barreira, além da falta de internacionalização — visão de mundo e de experiência em negócios globais. Todos esses pontos são fatores importantes, assim como uma falta de políticas mais fáceis e ágeis para ajudar os empresários brasileiros a comercializarem mais os seus produtos. Estamos crescendo e aprendendo cada vez mais, mas ainda temos um longo caminho pela frente.

Por que existem tantos profissionais desempregados — bacharéis e tecnólogos, em ADM— em todo o Brasil? Isso é mais uma questão de má formação, pouca experiência ou falta de iniciativa para driblar o desemprego?

Não entendo que seja um problema causado pela qualidade da formação de nossos administradores no Brasil. Pelo contrário, temos excelentes profissionais, com muita experiência, qualificados e em cargos chaves em todas as áreas. A questão que mais impacta no volume de desempregados é a falta de claras políticas de governos para o desenvolvimento, geração de empregos e maior proteção — aos empregados e empregadores — e uma menor taxa tributária. O governo tributa a todos de forma muito pesada. Não pensa em ganhar no volume de arrecadação (número de contribuintes), ou seja, com sistema de impostos mais simplificados e justos. Com mais arrecadação (contribuintes), a roda da economia gira.

Leia a edição 149 da Revista Brasileira de Administração.

Por Leon Santos – Assessoria de Comunicação CFA