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Consumo ou consumismo, eis a questão…

Quando ele deixa de ser hábito particular de compra para se tornar problema

Enclausurados em casa, por causa da Covid-19, e impossibilitados de comprar presencialmente diferentes itens, os brasileiros migraram para as compras on-line. De acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), 61% dos clientes entrevistados aumentaram seu volume de compras pela internet durante o isolamento social.

Pesquisa semelhante do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC-Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelou que 37% dos consumidores entrevistados admitiram ter comprado algo que não precisavam, nos últimos 30 dias, e que o consumo em excesso vem crescendo com a pandemia. Somente a venda de batons registrou aumento de 200%, mesmo com o uso obrigatório de máscaras em todo o país, de acordo a consultoria Corebiz.

Em momentos como esse, e tendo em vista o aumento do desemprego e redução do poder de compra por causa da inflação, surgem indagações sobre o que é considerado essencial ou supérfluo. Para o administrador e diretor do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), em Goiânia-GO, Francisco Capel, é possível distinguir os dois tipos de compras.

Ser ou ter?

Segundo Capel, a compra consciente é aquela que leva em conta aspectos de proteção ao meio ambiente, saúde humana e animal, bem como relações justas de trabalho. Nessa modalidade, o indivíduo tem consciência de que pode ser agente transformador da sociedade, no ato de consumir.

Por outro lado, a compra consumista, para Capel, acontece quando há compulsão ou desejo ampliado que leva o indivíduo a comprar de forma ilimitada, sem haver necessidade de bens, mercadorias ou serviços. “O consumista se deixa influenciar demasiadamente pela mídia, quando os apelos do capitalismo falam fundo na mente humana. Comprar é bom: quem disse que é ruim? Mas comprar de forma consciente é melhor ainda”, avalia.

Capel relata que o consumismo pode ser um problema, em razão da falsa felicidade que surge em resposta a dores e frustrações existentes. Acredita que é possível chegar ao que chamou de ‘caminho do meio’, quando existe equilíbrio entre consumo, meio ambiente e economia.

Nesse contexto, ele ressalta que o consumo gera emprego e renda, descentraliza a riqueza e gera impostos que podem ser devolvidos à sociedade em forma de políticas públicas. Já o consumo em excesso pode ser, na visão de Capel, uma armadilha, se não observadas particularidades.

“Depende do tamanho de seu bolso, sobretudo, em compras e pagamentos a longo prazo. Os juros, por exemplo, na maioria das vezes não são calculados pelo consumidor; além disso, as aquisições de bens e serviços desnecessários, muitas vezes, oculta um desejo de ressignificar a vida na dualidade entre o ter, ao invés de ser”, destacou.

Normal ou exagerado

Segundo o pesquisador em Ciência do Comportamento pela Universidade de Brasília (UnB), Rafael Porto, o termo ‘consumista’ mais atrapalha do que ajuda, ao definir a compra como item essencial ou supérfluo (além do necessário). Ele diz que o consumismo faz parte do consumo em geral, e a prática de comprar o que é fruto do desejo é algo normal e previsível.

“Hora ou outra, a gente compra tanto algo que necessita ou mesmo que gosta, mas não precisa daquilo. Na prática, coisas que a gente precisa são até pequenas no conjunto de itens que uma família de classe média, por exemplo, compra hoje em dia”, relata.

O problema não é a quantidade de itens comprados, mas sim a possibilidade de pagar por eles sem se endividar, na visão do pesquisador. Ele ressalta que a prática de gastar além das posses tem tido grau de relevância, preocupante, em todo o Brasil.

“Comprar, por comprar, é um problema que não gera muita repercussão, a não ser acúmulo de objetos em casa. Mas facilmente isso pode ser jogado fora ou doar o que não for necessário”, considera.

Contexto

Porto explica que para avaliar se existe algo de anormal com o consumo, é preciso analisar o contexto de compra. Ressalta que o mesmo objeto comprado por uma pessoa, em um contexto de necessidade, pode aparecer como algo por impulso ao ser praticado por uma pessoa que já tem o mesmo produto em demasia.

Até mesmo produtos considerados de primeira necessidade podem ser relativizados, dependendo da maneira específica do que se deseja. “Se quero uma água, isso é aparentemente um item necessário. Mas se quero beber uma água da marca Perrier, aqui e a agora, sendo mais específico como nesse caso, estou mais próximo do desejo do que de uma real necessidade. Depende muito do contexto pelo qual se está classificando o que é necessário e o que não é”, conclui.

Por Leon Santos – Assessoria de Comunicação CFA