Nem mesmo itens fundamentais para o uso de produtos, escapam do engodo criado com rótulo ambiental
Por Rodrigo Miranda
A preocupação socioambiental tem sido cada vez mais utilizada para modificar e vender produtos e serviços. A iniciativa seria válida se não existissem empresas que se aproveitam do mote para ludibriar clientes, com falsas promessas ecológicas, a fim de diminuir gastos, aumentar lucro e fazer publicidade enganosa.
Tal prática tem nome: greenwashing, e ganhou notoriedade no país. O mais famoso e recente caso foi a venda de celulares sem carregadores: item básico para o funcionamento do produto e que obriga o consumidor a comprar, necessariamente, o artigo à parte.
Recentemente o tema ganhou visibilidade e destaque no país. Fabricantes de celulares passaram a vender aparelhos sem componentes essenciais para o funcionamento, como o próprio carregador, com a justificativa de que a decisão teria como finalidade a proteção do meio ambiente.
A medida foi considerada ilegal pela justiça brasileira que chegou a proibir as vendas de produtos que adotassem tal prática e multou empresas como Apple e Samsung em R$ 100 milhões. A prática já foi identificada também em outros segmentos, como no automotivo, com o ‘pneu verde’ — que alega reduzir o atrito com o asfalto e, com isso, o esforço do motor e a quantidade de gases poluentes expelidas na atmosfera.
Outro setor que tem apresentado o problema é o de embalagens, como no caso de sacolas de supermercados que agora são vendidas ao consumidor e, por vezes, não apresentam mudanças em sua composição. Todas as empresas denunciadas têm sido notificadas e advertidas da ilegalidade.
Segundo o administrador, pesquisador e consultor nas áreas de ‘gestão, educação e sustentabilidade’, Marcelo Marujo, a prática tem crescido de forma acentuada no país, e isso se deve ao cenário atual do mercado. Há leis que incentivam e obrigam empresas a adotarem medidas ambientais, porém não há fiscalização sobre autenticidade nas ações.
“O greenwashing e suas práticas insustentáveis têm aumentado, pois o mercado apresenta incertezas (econômicas e na legislação), o que demanda mais esforços das empresas. A maioria das ações tem sido adotadas para atender sobretudo ao capital (lucro), por isso vemos ações irresponsáveis e descompromissadas, do ponto de vista ético e profissional, com os consumidores em geral”, diz.
Sustentabilidade de fachada
Em diferentes partes do mundo, uma das principais formas de coibir a prática é por meio de ‘títulos verdes’ denominados “green bonds”, que são emitidos para financiar projetos sustentáveis e garantir que as empresas sigam práticas socioambientais. De acordo com a organização Climate Bonds, os títulos devem movimentar em 2023 cerca de US$ 1 trilhão em todo o mundo.
Nesse quesito, o Brasil ainda está um passo atrás, pois os “green bonds” não são regulados, o que facilita a prática de greenwashing. Para o Administrador e especialista em gestão ambiental, Paulo Pizão, muitas empresas tentam apenas criar uma imagem positiva sem se preocupar de fato com o meio ambiente, e a falta de fiscalização torna o cenário cada vez mais comum.
“É preciso analisar fórmulas, linhas de produção, autorizações oficiais e confrontar o produto ofertado e a prática da empresa, pois só assim veremos quem pratica medidas socioambientais e pode utilizar tais ações em suas propagandas. Se o consumidor tem ciência sobre as más condutas, ele tende a abandonar o produto, o que tende a desestimular a prática do greenwashing”, avalia Pizão.
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