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A importância da representatividade feminina na política

As eleições municipais deste ano tiveram recorde de candidaturas femininas na disputa pelas prefeituras e câmaras municipais. Segundo dados da Justiça Eleitoral, dos 557.389 candidatos ao pleito de 2020, 33,6% eram mulheres. O levantamento revela também que houve aumento de candidatas eleitas, ou que vão disputar o segundo turno. 

As informações oficiais revelam, até o momento, que em 12,2% das prefeituras foram eleitas mulheres. O número, apesar de ser considerado ainda baixo em relação ao quantitativo de candidatos homens, apontam um pequeno avanço em relação aos anos anteriores. Esta foi a primeira eleição que começou a valer a cota obrigatória de 30% de candidaturas femininas e a reserva de pelo menos 30% dos eleitoral e partidário para financiá-las e a tendência é participação aumentar nos próximos pleitos.

Para aquelas que estão chegando agora, tais conquistas é fruto do intenso trabalho daquelas que, há anos, lutam para aumentar a representatividade feminina na política. Mulheres como a secretária de Relações Federativas e Internacionais, do Rio Grande do Sul e, em Brasília, Ana Amélia Lemos, estão na vanguarda quando o assunto é mulheres nesse setor. Gaúcha, natural de Lagoa Vermelha/RS, ela é formada em Comunicação Social pela PUC-RS. Deixou o jornalismo para concorrer ao Senado, em 2010, e foi eleita com 3,4 milhões de votos. No mandato, ela apresentou 114 projetos e PECS, dos quais cinco estão em vigor e contemplam saúde, agricultura e municípios. Foi relatora de 423 projetos, no Senado Federal, sobre diferentes assuntos. 

Vencedora de vários prêmios, ela foi considerada a parlamentar mulher mais influente no Congresso Nacional, naquele período, em lista do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). Em razão da sua trajetória na política, Ana Amélia Lemos foi convidada para participar do III Fórum das Mulheres da Administração. O evento realizado pela Comissão Especial ADM Mulher do Conselho Federal de Administração (CFA) acontecerá de 24 a 26 de novembro.

Nesta entrevista, ela fala um pouco sobre o papel da mulher na política e adianta o que o público irá conferir no evento.

Qual a importância da mulher na política?

A desigualdade entre a presença masculina e a feminina na política é grande. Avançamos lentamente. Segundo a Agência Senado, nestas eleições 2020, houve registro recorde de candidaturas femininas na disputa pelas prefeituras e câmaras municipais. No entanto, ainda com reduzido número de eleitas. É alentador o fato de batermos recorde de candidaturas. Mais mulheres estão indo à luta. A importância da mulher na política é no sentido da pluralidade do pensamento, dos pontos de vista, das prioridades e da sensibilidade. A mulher tem um grau de comprometimento, disciplina e organização que faz muito bem à política.

Por que ainda é considerada baixa a participação feminina nesse setor?

Porque a política é uma atividade de alto risco. É também uma atividade de muita exposição pessoal. Embora as mulheres não estejam entrando ainda com muito interesse na política, já é visível a presença delas em todos os níveis, seja nas câmaras municipais, assembleias legislativas, Congresso Nacional, prefeituras, governos estaduais! Já tivemos uma mulher na Presidência da República!

O que vemos, cada vez mais, é a presença de mulheres nas carreiras de estado. Seja no poder judiciário, ministério público, forças armadas, polícias civis e militares nos estados, polícia federal, rodoviária e assim por diante. O acesso, nessas carreiras, é via concurso público e, como são muito aplicadas, as mulheres têm tido sucesso. No serviço público, podem planejar melhor a sua vida pessoal e têm também, a garantia da estabilidade. Normalmente, o número de candidatas inscritas, nesses concursos, tem superado o de homens, em algumas áreas. 

Já na política o acesso é pelo voto. Mesmo que a Justiça Eleitoral tenha decidido que 30% do fundo partidário, seja destinado a financiar as campanhas delas, isso não chega a atrair candidatas, porque a disputa é acirrada, a concorrência é grande, além do enfrentamento com adversários, que são os obstáculos que desestimulam as mulheres em boa medida a entrarem na atividade política. A mulher tem capacidade para participar, e a experiência da atividade política pode começar liderando uma comunidade, um condomínio, uma agremiação estudantil. É importante exercitar a formação de novas lideranças. 

Hoje temos movimentos como o Renova Brasil, que teve uma atuação exitosa em formação de novas lideranças jovens. A deputada Tabata Amaral PDT/SP é um desses exemplos. Esses movimentos ajudam a abrir espaços para as mulheres.

No seu caso, você enfrentou algum tipo de resistência? Foi difícil fazer carreira nesse setor?

No meu caso não, porque eu fazia jornalismo econômico e convivia só no meio de homens. As minhas fontes eram todas lideranças masculinas, então eu consegui ter uma respeitabilidade pela forma como trabalhei no jornalismo. O reconhecimento não era pelo fato de ser mulher, mas por ser uma jornalista aplicada.

Nós mulheres somos mais pela argumentação nos embates. Lembro, certa vez, que o senador Renan Calheiros me cortou a palavra, porque ficou bravo com o que eu falava. Era um debate sobre a prisão em segunda instância. Se eu fosse homem ele teria vindo para a briga. Reagi à altura, sem agressão. Em outra ocasião, eu estava presidindo a comissão especial do impeachment designada pelo presidente Raimundo Lira. O senador Lindbergh Faria, descontente com a minha postura, arrancou o microfone da minha mão. Se eu fosse um homem, ele não teria feito isso. Nesses casos o embate é político, você usa palavras para responder, e não convida para o ringue.

Quais os desafios que ainda precisam ser superados?

As mulheres estão se engajando, essa eleição foi a prova de que elas estão decidindo arregaçar as mangas e entrar na disputa. E isso é muito positivo, muito bom, acho extremamente saudável. O desafio é aumentar o engajamento.

Sobre o evento

O III Fórum das Mulheres da Administração é gratuito e voltado para as profissionais e estudantes de Administração, mas mulheres de outros segmentos também poderão conferir o evento. O Fórum será totalmente on-line, com transmissão ao vivo pelo CFAPlay – canal do CFA no Youtube. O encontro acontecerá de 24 a 26 de novembro, das 19h às 21h.

Serão emitidos certificados de participação com carga horária de duas horas por noite, a todos que participarem, inclusive painelistas e palestrantes.

Ana Graciele Gonçalves

Assessoria de Comunicação CFA