No último século, a evolução da economia e tecnologia representa um avanço historicamente inigualável em tão curto período. Do automóvel de Henry Ford à Internet das Coisas, a sociedade colheu benefícios que fizeram a vida mais ágil e prática. Por outro lado, a sustentabilidade desse movimento é natimorto, uma vez que sua oriunda cultura de consumo desconsiderou fatores estratégicos. Recursos naturais, humanos e sociais – indissociáveis da dinâmica mercadológica – estiveram mantidos à margem da equação dos negócios e mais atentos a variáveis financeiras.
Hoje, sociedade e meio-ambiente, além do próprio mercado, mostram a conta. Crise financeira, degradação ecológica avançada e colapsos sociais são os efeitos mais evidentes. Além da conhecida preocupação com a sustentabilidade ambiental como resposta, uma valiosa alternativa surge para a quitação do débito: a economia colaborativa. Esse modal econômico apareceu timidamente há mais de 30 anos nos Estados Unidos, com os bancos de tempo – uma forma de escambo de serviços –, mas ganhou notoriedade na última década com o surgimento do Uber e de iniciativas de coworking e coliving, assuntos já abordados nos veículos de comunicação do CFA.
A preocupação em torno do tema sustentabilidade atende a um pedido global de ajuda para a preservação do meio ambiente, frente à exploração econômica desenfreada. As pessoas estão sendo chamadas à consciência de consumo e, com a reverberação das informações, já cobram práticas responsáveis das empresas. Acontece que produzir e comercializar bens e serviços, reduzindo impactos sócio-ambientais, por si só, não resolve tudo.
O cidadão do século XXI é herdeiro do consumismo difundido no período anterior. Mais do que um comportamento comercial, essa cultura envolveu a sociedade global na efemeridade da realização pelo consumo, pela posse de novos produtos e pela novidade tecnológica industrial. Ratificaram Platão no que tange à definição de amor e desejo, tornado o objeto almejado descartável após a conquista. O resultado é a absurda quantidade de lixo gerada a cada ano no planeta: mais de 2 bilhões de toneladas.
A reversão do quadro prenunciador de catástrofes inimagináveis está ancorada na conscientização do mercado e da sociedade de consumo, tendo como instrumento a sustentabilidade e economia colaborativa. Enquanto o primeiro se ocupa do cuidado mais direto com o meio ambiente, o segundo potencializa eficiência e eficácia na proteção. O compartilhamento de bens e serviços pode reduzir brutalmente as taxas de desperdício – seja de recurso, de material, de tempo, etc. – e poluição, o que torna possível o alcance de uma sociedade sustentável, capaz de progredir sem prazo de validade.
Apesar de dificuldades e entraves em determinados governos e seguimentos do setor privado, a economia colaborativa ambiental é um caminho sem volta. O debate transcende limites territoriais, a informação é divulgada em grande escala e a conscientização tem sido construída sólida e paulatinamente há décadas. Como administradores vanguardistas da gestão, cabe a nós participar ativamente desse processo. O conservadorismo, nesse caso, é o próprio requerimento da obsolescência profissional.
Assim como fomos responsáveis na construção de uma cultura organizacional que atendesse as demandas do boom industrial, no início do século XX, agora também o somos diante da sua reconfiguração. O esforço dos profissionais de Administração precisa estar focado na quebra de paradigma encarada pela sociedade, e em promover o compartilhamento e a colaboração entre pessoas e empresas, virando a chave dos relacionamentos em função dessa nova era.
Cientes de que o assunto envolve diretamente a geopolítica e capacitados à lidar cientificamente com a gestão pública, passa por nós o trabalho de auxiliar governos e Estado na transição em curso. A nova ordem econômica mundial impõe a mudança global na forma de pensar, agir, se relacionar, produzir, distribuir e consumir. Fomos felizes numa revolução passada; cabe a nós repetir o êxito no presente.
Adm. Mauro Kreuz
Presidente do CFA