O segundo dia do Encontro Regional dos Profissionais de Administração da Região Centro-Oeste 2024 (Erpa Centro-Oeste) começou com o painel “Desenvolvimento Econômico do Agro em Mato Grosso”. Para falar do assunto, subiram ao palco a superintendente de Agronegócio e Crédito da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Linaci Silva; o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia e Agropecuária, Cleiton Gauer; a presidente da Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso, Mayran Beckman; e a consultora de Negócios Agro do Sicredi, Cristiane Sassagima. A mediação foi feita pelo presidente do CRA-DF, Adm. Carlos Alberto Ferreira Júnior.
Os painelistas apresentaram um breve panorama do agro em Mato Grosso. Linaci comentou que o estado é líder nesse segmento econômico e que a secretaria atua com quatro estratégias: fomentar a produção atual, diversificar a produção, industrializar e conservar o meio ambiente.
Atualmente, Mato Grosso lidera a produção de carne bovina, soja, milho, algodão, gergelim e biocombustível (etanol de milho). “Entre as ações de fomento, temos a legislação de bioinsumos, o plano estadual de fertilizantes e o estudo de inteligência territorial e hídrica”, explicou Linaci.
Com relação ao meio ambiente, o governo de Mato Grosso tem a missão de recepcionar os recursos da taxa de reposição florestal e apoiar o desenvolvimento de pesquisas e projetos que visam assegurar a reposição florestal de forma sustentável. Para tanto, criou um plano estadual de desenvolvimento florestal de Mato Grosso, realiza ações de difusão de conhecimento florestal e educação ambiental e criou a câmara técnica de defesa das florestas plantadas.
Cleiton, por sua vez, apresentou números do setor, mas ele ressaltou que é preciso pensar a nível Brasil e não ficar limitado, apenas, ao estado de Mato Grosso. “É um setor que corresponde a uma parcela significativa da economia. Todas as profissões têm uma oportunidade para atuar nesse setor”, comentou.
O especialista disse, ainda, que é preciso pensar em políticas públicas para fomentar o setor. Entre os desafios do segmento está a busca por profissionais qualificados. “É um espaço muito grande, mas a pessoa tem que se qualificar, se desenvolver. O nosso papel é mostrar que o agro é um setor que tem muitas possibilidades”, afirmou.
Muitas ações do governo do Estado de Mato Grosso estão concentradas na Agência de Crédito do Empreendedor, o Desenvolve MT. “Somos uma agência de crédito vinculada a SEDEC, regulamentada e fiscalizada pelo Banco Central. Atuamos há 20 anos promovendo o acesso ao crédito, estimulando a realização de investimentos, a criação de emprego e renda, fortalecendo o desenvolvimento sustentável de Mato Grosso”, explicou Mayran.
A agência oferece prazos longos e taxas de juros mais competitivas a fim de apoiar os micro e pequenos empreendedores matogrossenses. Tais linhas de crédito são usadas para começar um negócio, por exemplo, ou criar um projeto de crescimento e inovação da empresa.
O painel foi encerrado com a fala de Cristiane Sassagima. Ela mostrou ao público a primeira instituição financeira cooperativa do Brasil, a Sicred. Além disso, apresentou números que comprovam que o cooperativismo de crédito tem se tornado, cada vez mais, uma alternativa. “Ela é uma boa opção para o agro, seja para o pequeno ou grande produtor.”, garantiu.
ESG e o Agronegócio
O segundo painel da manhã desta quarta-feira, 17/4, tratou do “ESG e o Agronegócio”. Participaram a gerente socioambiental da AMAGGI, Fabiana Reguero; a head de Processos e ESG do Grupo Morena, Vanessa Chiamulera; a gerente de Sustentabilidade e Inovação da FIEMT, Ribenildes Souza; e o diretor Técnico do Sebrae-MT, Adm. André Luiz Spinelli Schelini. O painel teve a mediação do conselheiro regional do CRA-MT, Adm. Luiz Martins de Lima.
O conceito de ESG, que significa Ambiental, Social e Governança, tem se tornado cada vez mais relevante para o setor do agronegócio. Durante o painel, os participantes falaram que as empresas do agronegócio que adotam uma abordagem proativa em relação ao ESG podem colher uma série de benefícios, incluindo uma melhor reputação corporativa, acesso a capital mais barato, maior resiliência a riscos ambientais e sociais, e uma vantagem competitiva no mercado cada vez mais consciente.
Além disso, à medida que investidores, consumidores e reguladores continuam a valorizar o desempenho ESG, as empresas do agronegócio que não priorizam essas considerações correm o risco de enfrentar consequências financeiras e de reputação. Do ponto de vista do capital humano, o agronegócio também tem implicações sociais significativas, especialmente em termos de emprego, segurança alimentar e desenvolvimento rural.
Durante o debate, os painelistas também mostraram algumas ações voltadas para ESG desenvolvidas pelas empresas e organizações onde atuam.
Tecnologias e Conectividade no Campo
A tarde do segundo dia do Erpa Centro-Oeste teve início com o painel “Tecnologias e Conectividade no Campo”. O assunto foi debatido pelo superintendente da AGRIHUB/FAMATO, Paulo Osaki; pelo gerente de operações tecnologias da UISA, Lucas dos Passos; e pelo gerente de Desenvolvimento de Produtos e Inovação do Senai-MT, Alexandre Possebon; com a mediação foi feita pelo administrador Osmar de Paula Oliveira Júnior.
Um dos pontos defendidos pelos painelistas é de que a tecnologia e a conectividade estão transformando rapidamente o setor agrícola, aumentando a eficiência, a produtividade e a sustentabilidade. Paulo Osaki falou sobre os benefícios da internet no agro, mas também ressaltou os desafios que o setor enfrenta na área de tecnologia.
“A agricultura digital ainda está longe de acontecer. Tem muita coisa ainda para resolver até que a gente possa, de fato, ter uma agricultura digital, com conectividade e tudo mais”, explicou.
Uma das empresas que usam tecnologia é a Uisa. “A gente busca hoje eficiência na produção a fim de mitigar impactos ambientais”, comentou Lucas. Em 2023, a Uisa começou a adotar a inteligência artificial com automatização de processos,uso de data science, assistentes virtuais, entre outros.
Possebon trouxe exemplos de tecnologia e inovação aplicados no Sistema FIEMT. “Para o agro, temos cursos de capacitação que podem ser implementados em poucos meses”, disse. Na área de capacitação profissional, o Senai conta com apoio de parceiros importantes que possibilitam que a aprendizagem técnica e industrial.
Dentro do Senai existe outra iniciativa: o Senai Hub. De acordo com Possebon, o objetivo é levar inovação para empresas e indústrias do estado de Mato Grosso. “O Senai está preparado para isso com os cursos. Quem vai implementar isso, um dos principais atores, serão os profissionais de administração, pois inovação requer colaboração e conexão”, opinou.
Potencialidades dos Profissionais de Administração e a Empregabilidade no Agro
O último painel do Erpa Centro-Oeste 2024 foi mediado pelo conselheiro federal, Adm. Alex Sandre Rodrigo Cazzelli. Coube a ele mediar um bate-papo sobre um assunto muito aguardado pelo público “Potencialidades dos profissionais de Administração e a empregabilidade no setor agro”.
Para falar sobre o tema, foram convidados: a CEO do Grupo Valure, Admª Lorena Lacerda; a coordenadora da Comissão Especial de Trabalhabilidade e Empregabilidade com Criatividade em Administração do CFA, Admª Jociara Correia; e o diretor da Faculdade IBG, professor Juarez Orsolim.
Lorena relatou um pouco da sua trajetória como empreendedora. Ela comenta que passar e superar um câncer a fez ver a vida por um outro ângulo. Essa experiência, inclusive, a motivou a escrever um livro. “O fato de eu estar viva me fez tomar uma decisão: contribuir para o mundo de outra forma. Fundar o Instituto Viva o Despertar é, para mim, motivo de muita alegria.”, comentou.
Em seguida, o professor Orsolim disse que precisou revisitar alguns autores clássicos da Administração para se preparar para o painel. Para ele, potencial é diferente do real, pois a realidade exige um conjunto de fatores. “Se existem esses potenciais de atuação, o que é que pega, de fato? Por que as empresas reclamam tanto de mão de obra qualificada”, questionou o docente.
Um dos motivos pode estar na educação. Os números brasileiros apresentados pelo professor são preocupantes, pois revelam que o acesso a educação, sobretudo a superior, ainda é um desafio. “Hoje a gente vive uma banalização da educação. Tem cursos de todos os tipos e valores. Cursos de Administração, por exemplo, a um baixo valor e uma qualidade questionável.”, alerta.
Para Jociara, a Comissão visa mostrar novas formas de trabalho para os profissionais de Administração. “Com tantas mudanças no mundo, o impacto tecnológico vem alterando a forma do mercado de trabalho. Fala-se que, até 2030, muitos empregos deixarão de existir. O que faremos?”, disse a administradora.
No agro, a conselheira aponta onde o profissional de Administração pode se encaixar: articulação e decisão sobre a produção na pecuária e agricultura, gestão, vendas e diversos tipos de negociações no campo, consultoria, entre outros. Para abraçar essas oportunidades, ela elencou uma lista de soft skills necessárias para conquistar espaço nesse segmento.
Ana Graciele Gonçalves
Assessoria de Comunicação CFA