Em um contexto pós-pandêmico, os mais novos estudantes e recém-formados demonstram desinteresse na busca e desempenho de profissões. Essa tendência é um indicativo da necessidade de alguma mudança — na nova geração ou no mercado de trabalho.
Com a realidade do mercado de trabalho cada vez menos amistosa e o alto índice de demissões no país, os profissionais sentem uma cobrança diária por melhores qualificações e bons resultados. Justamente nessas condições é que surge a ideia de um protesto em favor da diminuição de serviços.
O termo que tem representado esse movimento é o “quiet quitting”, que consiste em comparecer no trabalho e realizar apenas o básico de suas funções. Essa ideia contraria várias tendências de produtividade que são propagadas nas mídias e exigidas dos funcionários dentro do ambiente profissional.
Indo contra também a sua própria tradução, que seria “desistência silenciosa”, esse fenômeno não indica que quem o pratica tem a intenção de pedir demissão, mas significa dizer que o profissional decidiu limitar suas tarefas apenas ao que é necessário, evitando envolvimento e sobrecarga.
A finalidade dessa postura de trabalho é delimitar vida profissional e pessoal, rejeitando a ideia de “viver para trabalhar”, tão difundida hoje em dia. O tempo de lazer e dedicação à família ganha relevância e protagonismo, uma vez que o trabalho deve ser encerrado ao fim do expediente.
A prática de realizar apenas o mínimo é derivada do movimento “Antiwork”, que critica o mundo do trabalho e ganhou espaço internacionalmente por estimular a rejeição do mercado de trabalho como ele é. A visibilidade adquirida, entretanto, não foi somente positiva, e serviu de argumento para reforçar o discurso de que a Geração Z é preguiçosa e acomodada.
Em contrapartida, a racionalidade neoliberal é justamente uma oposição à ideia de desacelerar. Os princípios dessa ideologia são a concorrência, o individualismo exacerbado, o que estabelece como objetivo relacionar todas as esferas da vida ao trabalho, desempenho e produtividade, fazendo com que qualquer pessoa, basicamente, comece a atuar como uma empresa.
Entre as principais consequências da produtividade tóxica está a Síndrome de Burnout, que é caracterizada por sobrecarga e estresse, e é altamente prejudicial para a saúde mental. De acordo com pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma), 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem com o problema atualmente.
Essa lógica passou a ser questionada durante a pandemia de Covid-19, quando muitas pessoas começaram a rever seus valores e a repensar prioridades. Integrar a vida pessoal e a profissional de acordo com suas necessidades, livrando-se da “cultura tóxica” das empresas através da priorização da saúde mental, virou um ideal almejado entre os trabalhadores.
A pergunta que paira é: será que é possível criar um ecossistema melhor, ou os jovens devem se acostumar com as regras do jogo como ele é?
Maria Natália Terra
Com supervisão de Patrícia Portales