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Gestora relata desafios e oportunidades na área da Saúde

Entrevistada pela RBA, Jacqueline Rossi fala sobre a profissão e dá um panorama sobre o setor

Administradora com expertise no setor de Saúde, a gerente de relacionamento médico sênior, da United Health Group-Brasil, Jacqueline Rossi, é a entrevistada da RBA, edição 136. Ela conta como funciona o universo da gestão hospitalar e suas impressões sobre o segmento, em tempos de pandemia.

Além de buscar por inovação, tanto em tecnologia quanto em procedimentos e capacitação, Jacqueline adianta que o profissional de sua atividade deve ter, acima de tudo, empatia. Para a gestora, lidar com pessoas, sobretudo, na área da Saúde é tarefa que requer não apenas colocar-se no lugar do outro, mas também entender as necessidades do paciente, da instituição e do mercado.

RBA – Jacqueline, por que você escolheu a gestão hospitalar?

A carreira de administração, voltada ao segmento de saúde, nos permite encontrar um mercado muito vasto, seja em hospitais, laboratórios de análises clínicas, policlínicas, casas de saúde para idosos e operadoras. Além disso, permite um ambiente de trabalho estimulante, com desafios diários que trazem a sensação de recompensa, com a possibilidade de ajudar pessoas. Este misto de oportunidades, mais os desafios constantes do dia a dia, motivaram a minha decisão profissional, a qual não me arrependo em momento algum.

O administrador hospitalar tem inúmeras rotinas que transcendem as gestões de folha de pagamento e de compras de materiais, como medicamentos. Dê-nos um panorama sobre o que faz um gestor hospitalar e do que pode ser feito nessa área, em termos de possibilidades.

O gestor hospitalar assegura a realização de todas as atividades da empresa na qual trabalha: seja um hospital, uma clínica, um homecare ou outro serviço. Em regra, é um grande diferencial ter alguém que entenda das diversas áreas existentes, pois essa pessoa ajudará na busca pelo objetivo principal, que é a busca da qualidade da eficiência e da compatibilidade com a visão e a missão da instituição.

Nesse contexto, é essencial que o gestor esteja muito próximo dos demais departamentos, de forma a repassar conhecimento e envolver a todos. É necessário, então, que as ações e decisões de seus dirigentes sejam fundamentadas em conhecimento técnico e administrativo — não apenas no bom senso e nas experiências passadas. 

Em tempos de Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus), quais principais problemas você identifica nesse setor? Temos feito uma boa gestão nos hospitais públicos e privados, brasileiros?

Devido à pandemia, as diferenças entre os níveis de estrutura, instalações, equipamentos e preparação dos profissionais, dos setores público e privado, ficaram mais evidentes. Com a lotação dos leitos hospitalares, de diversas cidades e estados brasileiros, as medidas e ações para colaborar com o setor público tem aumentado bastante, indo além da compra de leitos e da criação de uma   fila única de pacientes.

O principal desafio, agora, é estabelecer como as esferas pública e privada da saúde podem trabalhar em conjunto, durante e depois da pandemia, em benefício dos habitantes. Em geral, o setor privado tem ajudado o setor público com ações que vão desde treinamento, gestão de hospitais de campanha, doação e liberação de equipamentos, até a realização de exames.

Os hospitais privados também utilizam diversas tecnologias que permitem uma gestão adequada dos casos, com ações internas já implantadas para o retorno do paciente. Já no setor público, por outro lado, há procedimentos eletivos (aqueles que são programados, e não são considerados de urgência e emergência) que acabaram sumindo nessa crise. O momento, agora, é de trabalhar para o novo normal.

Quais as principais diferenças entre a gestão feita em uma instituição pública e privada? Além da questão legal — em respeito às leis que regem o serviço público —, o que mais você destacaria que gera tanta diferença entre os serviços apresentados por esses dois tipos de instituições?

Na minha opinião, é a gestão de recursos financeiros. Não somente a quantidade de recursos, mas, sim, a gestão adequada deles. Temos alguns exemplos que vimos nesta pandemia, como a construção de hospitais de campanha, sendo que na mesma cidade possuía hospital fechado e praticamente pronto para atendimento em termos de estrutura.

Outro exemplo, foi a compra de equipamentos fundamentais para o atendimento em UTIs; alguns desviados, outros realizados com abuso de preço e prazos de entregas. Não houve ações coordenadas entre os poderes federais, estaduais e municipais, cada um puxou para o seu lado.

O que ainda pode ser feito, em termos de gestão, que diminuiria o impacto da pandemia sobre o atendimento em hospitais, tanto públicos quanto privados?

Expandir o uso da telemedicina: tanto na prevenção de saúde, e na realização de consultas, quanto em atendimentos virtuais com equipe especializada, capaz de realizar triagem adequada para direcionar corretamente o atendimento. Poderia, ainda, ser utilizado em consultórios particulares, nas unidades de saúde pública e em UTIs.

Haveria, com isso, a disseminação e o acompanhamento de casos mais complexos, principalmente, nas localidades com menor nível de recursos de atendimento. É preciso, também, criar fluxos de atendimento capazes de atender pacientes com a Covid-19, separados dos pacientes sem a doença. Não podemos postergar a continuidade do acompanhamento e o cuidado com a saúde.

Quais são as principais tendências no segmento de gestão hospitalar que têm sido aplicadas no mundo, mas ainda não são exploradas ou pouco exploradas no Brasil?

Em saúde, as inovações representam a aplicação de novos conhecimentos que podem aparecer de forma concretamente incorporadas: tanto em um equipamento, dispositivo ou medicamento, como também podem representar ideias, na forma de novos procedimentos ou de reorganização dos serviços. Temos muitas iniciativas fantásticas em nosso país, ainda pouco difundidas, e outras pouco exploradas.

Um exemplo seria a utilização de robôs em cirurgias ou o uso de smartphones para realização de exames e acompanhamento de saúde. Há, ainda, o cultivo laboratorial de células para formação de órgãos, ajudando na questão dos transplantes, entre outras milhares de iniciativas. Na maioria das vezes, em razão dos valores elevados, o acesso a essas novas tendências é o principal entrave para chegar e ser utilizada no Brasil.

No âmbito da gestão hospitalar ou da administração em si, quais áreas que ainda há boas oportunidades de trabalho e por quê?

Dentro da gestão hospitalar, eu diria que todas as áreas são encantadoras e gratificantes. Se você tiver compaixão e amor pelo que faz, terá sucesso garantido.

Por outro lado, pensando em um futuro não tão distante, e considerando o perfil e aptidão da pessoa, sugiro investir nas áreas relacionadas à inovação tecnológica ou novos negócios, tais como telemedicina, experiência do paciente e jornada do médico. Outras áreas com grande potencial são logística, distribuição de insumos e áreas que você tenha a oportunidade de inovar e trazer para o seu dia a dia novas oportunidades.

Outro ponto a lembrar, é que a pirâmide etária tem alterado muito no Brasil. Tem aumentado a concentração da população entre as faixas com maior idade, permitindo, assim, oportunidades em áreas e serviços focados nesse público-alvo.

Que conselho você daria aos profissionais de administração que, neste momento, estão desempregados e encontram dificuldades de reinserção profissional? A mesma pergunta vale, também, para os estudantes recém-graduados.

Mantenha-se atualizado, pois a área da saúde está em constante transformação. A cada dia, novas técnicas e metodologias surgem no mercado e o gestor hospitalar precisa estar sempre atento e atualizado em relação a essas transformações.

Procure investir em cursos nas áreas de gestão, finanças e administração que sejam focados em serviços de saúde. Assim, você estará mais preparado para lidar com as especificidades desse mercado.

Se possível, adote uma postura analítica. Na maioria das posições de gestão, você deverá analisar dados quantitativos e qualitativos — para tomar decisões mais ágeis e assertivas —, propondo soluções com mais facilidade e baseando suas decisões em fatos e não em meras intuições.

Por último, tenha organização para que o trabalho seja desempenhado com qualidade, segurança e sem negligências. Isso poderá ser um diferencial também desse profissional. Hoje, no mercado, diversos softwares e ferramentas de gestão estão disponíveis e podem ser uma excelente maneira de se manter organizado.

Por Leon Santos – Assessoria de Comunicação CFA